Novos paradigmas de sala de aula


O texto desta postagem é uma contribuição de Gonçalo Margall, diretor da Sapienti.

Este blog aceita contribuições de textos sobre o uso pedagógico das TICs. Para maiores informações, entre em contato.

 

Novos paradigmas de sala de aula: cinco mandamentos para uma transição feliz

Gonçalo Margall*

Transformar uma sala de aula tradicional em um ambiente multimídia só produz os resultados esperados – alunos que aprendem mais e melhor – quando, em paralelo, acontece o mais importante: investir no professor, investir no professor, investir no professor

O uso das novas tecnologias educacionais na sala de aula está, hoje, num momento de profunda avaliação. Foi-se o tempo em que se comprava tecnologia por tecnologia; educação, algo fundamental para o crescimento e o amadurecimento de um país, não pode ficar nas mãos do mercado. Em todas as regiões do Brasil há, hoje, educadores e pesquisadores tentando mapear o quanto, de fato, o uso dessas soluções está ajudando o aluno a aprender mais e melhor, com menos problemas de comportamento, menos evasão escolar.  Isso vale para a rede pública de ensino e para a rede privada; isso vale para universidades e cursos profissionalizantes ou técnicos. Aprender é um trabalho duro que pode ou não ser facilitado pelo uso dessas novas tecnologias.

Pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas (FCC), por exemplo, avaliou o nível de aproveitamento de todos os alunos das escolas públicas do município de José de Freitas, no Piauí. São crianças que, desde 2009, estudam em salas de aula munidas das mais novas tecnologias interativas e multimídia (lousas digitais, laptops e tablets, softwares educativos, etc.). A pesquisa indicou que os alunos que tiveram aulas de Matemática neste ambiente melhoraram suas notas em 8.3 pontos em relação ao período letivo anterior. Os alunos que estudaram Matemática em salas com layout tradicional melhoraram apenas 0.2 ponto em relação ao período letivo anterior.

Essa não é a única pesquisa que tenta mensurar o quanto as novas tecnologias educacionais são mero modismo ou eficaz ferramenta de aprendizagem. No município do Guarujá, no estado de São Paulo, a rede pública conta com diversas escolas munidas de sala multimídia. Em uma dessas escolas, foi feito um comparativo para determinar o quanto essas novas tecnologias facilitavam o acesso do aluno ao conhecimento. A turma da Sexta Série A tinha aulas de Geografia em uma sala tradicional. Neste ambiente, 35% das crianças alcançavam médias satisfatórias; ao passar a ter aulas de Geografia numa sala multimídia, a percentagem de alunos que conquistaram notas satisfatórias saltou para 80%.

Essas pesquisas são a ponta do iceberg de um universo muito mais amplo. Ainda há muito a se avaliar sobre este tema. Mas já é possível definir algumas colunas do que seria o uso adequado – ou seja, que produz os resultados esperados – das novas tecnologias educacionais. Aqui vão os 5 mandamentos de como seria caminhar em direção à sala de aula interativa da forma mais eficaz possível:

1) Manter o foco no professor, e não na tecnologia. A mera instalação na sala de aula de equipamentos interativos não garante que a classe esteja tendo uma aula interativa, com acesso a novas experiências educacionais. Mais importante do que comprar o produto A ou B é investir tempo e dinheiro para ajudar o professor a se apaixonar por esta nova infraestrutura multimídia e, a partir daí, passar a desenvolver novas aulas. Esse é um desafio importante, e que depende da diretoria de cada escola e da visão de cada fornecedor de soluções educacionais para ser vencido. O professor tem de sentir que ganha, e muito, ao abandonar seus antigos métodos em sala de aula e passar a usar de forma criativa e provocadora as novas tecnologias. Mais do que capacitar o professor quando a nova tecnologia entra na sala de aula, é fundamental manter programas de formação continuada em longo prazo.

2) Oferecer para o professor acesso a uma comunidade para o desenvolvimento de novos conteúdos e novos modelos de aula. Não cabe ao fornecedor A ou B ou à entidade educacional C ou D ser a fonte de conteúdos revolucionários, que farão o melhor uso das novas tecnologias de sala de aula. Esses personagens podem e devem suportar o desenvolvimento desses conteúdos. É papel do professor, de pesquisadores, de especialistas em educação, “inventar” novas e atraentes aulas a partir do novo ambiente educacional. Comunidades locais, comunidades interligadas por redes sociais, comunidades internacionais e comunidades voltadas ao desenvolvimento de conteúdos específicos sobre disciplinas específicas (Português, Matemática, Ciência, etc.) são essenciais para suportar a missão do professor audaz, que anseia desvendar novos horizontes e cativar os alunos ao longo de toda esta caminhada.

3) Fale com quem usa esta tecnologia antes de comprar essas soluções. Procure visitar escolas que já tenham vivido esse processo de transição – migrar de salas de aulas tradicionais para salas multimídia – para saber a verdade sobre esta tendência. Vale a pena falar com os diretores, com os professores e, se possível, acompanhar aulas que aconteçam dentro da sala multimídia. Isso dará à pessoa que busca novos horizontes na educação a percepção do que realmente faz diferença para os alunos, o que é apenas uma mudança cosmética.

4) Prepare-se para aprender muito e mudar seus paradigmas. O verdadeiro educador sabe que tudo muda nesta área e que é impossível voltar ao passado. Em 1910, a Universidade de Chicago realizou um estudo para determinar por quanto tempo um aluno conseguiria prestar atenção à aula. Chegou-se à conclusão de que 50 minutos eram o tempo máximo que um professor conseguiria prender a atenção de um aluno. Estudos recentes realizados também nos EUA mostram que, agora, o tempo máximo de concentração limita-se a intervalos de 8 minutos. Em educação, a quebra de paradigmas não tem fim. O aluno que parece não estar prestando atenção na aula, checando mensagens no Twitter, pode estar procurando informações essenciais para a discussão em sala de aula; numa universidade, o aluno que troca mensagens via Facebook com seu amigo pode estar simplesmente realizando um trabalho em grupo.

5) Nunca esqueça a importância de um conteúdo bem construído. A infraestrutura da sala multimídia pode ajudar o professor a dar uma aula brilhante, atraente, que mantém os alunos conectados a ele todo o tempo. Mas isso não diminui a importância da sólida formação em conhecimentos, da capacidade de estar sempre atualizado. Esse é um valor eterno da educação. Com as novas tecnologias educacionais, a única diferença é que a forma de transmitir esses conhecimentos também é mais atualizada.

A beleza do momento que vivemos hoje é que muitos educadores estão decididamente caminhando ao encontro da cultura (inclusive cibernética) e dos comportamentos de seus alunos. Boa parte do corpo docente está pronta a ver na tecnologia uma aliada. Isso significa transformação.


*Gonçalo Margall é diretor da Sapienti, empresa pioneira no segmento de Tecnologia Educacional.

14 comentários sobre “Novos paradigmas de sala de aula

  1. Maravilhoso…Nunca tinha visto tanta informação pedagogia incorporada a um contexto tão amplo de informações e abordagens mediaticas.Parabéns,continue contribuindo com uma educação de qualidade para nosso país,abçsssssssssss.

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  2. Ótima matéria! Sou professor de Física do ensino médio e cursinho pré vestibular. Escrevi um artigo sobre as polêmicas do Enem. Dê uma olhada em nosso site.Caso interesse posta-lo aqui no seu espaço, entre em contato conosco. Parabéns pelo site/blog !

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  3. Estou certo de que toda e qualquer tentativa de se tornar uma aula mais divertida e interativa para o aluno é válida e facilita o aprendizado…

    Uma boa dica p/ os professores é o site AulaDeQue. Lá podemos divulgar gratuitamente nossas aulas e conquistar novos alunos! Vale a pena cadastrar! é http://www.auladeque.com.br

    Abraços!

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  4. Certamente transformar a sala de aula tradicionalmente composto por um quadro e um giz representa modificar diferentes papéis educacionais. A utilização das tecnologias em sala de aula ainda representa um grande desafio a educação brasileira. Muitos educadores ainda não estão preparados para administrar tais mudanças, entretanto, muito já conseguiram romper muitos desafios e hoje utilizam-se de novas metodologias midiaticas e tecnológicas em sala de aula. Também é importante ressaltar que não é apenas o professor que deve ser responsabilizado pela tradicional lousa negra e giz colorido, as nossas leis educacionais e políticas partidárias ainda deixam muito a desejar, utilizando-se do discurso educacional apenas em época de campanha! aprendizagem

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    • Olá Eliane,

      Sim, concordo com você. Culpar o professor pelo atraso educacional é o mesmo que isentar todos os governos que se sucederam nas últimas décadas e que, como você bem disse, praticamente só tiveram olhos para a Educação em tempos de eleições. Não é o professor que decide seu próprio salário, que equipa escolas, que fornece materiais didáticos e de apoio e que, ao fim e ao cabo, é responsável pela formação desse mesmo professor. Professor este que, aliás, vez por outra é chamado de “incompetente” por ser o elemento que está lá na ponta da cadeia de trapalhadas que se faz na Educação brasileira e, por isso mesmo, ser o elemento “mais visível e mais visado” de todo o sistema. Felizmente, no entanto, o Professor Digital que está surgindo hoje também é capaz de ter essa visão e, quem sabe, também não ajude a mudar a Educação mudando governos que se mostrem incompetentes.

      Obrigado pela visita ao meu blog.

      Abraço,
      JC

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  5. Adorei o blog este e outros posts são muito bons, a melhoria da educação depende acima de tudo dos educadores que precisam estar dispostos a mudanças sim vendo na tecnologia a possibilidade de melhoria nos resultados de todo o trabalho pedagógico e não apenas uma novidade e entretenimento na sala de aula as mídias oferecem enormes possibilidades de ensino basta aceitar o desafio de explora-las.Parabéns pelo trabalho.

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  6. O conteúdo é “tudo” quando falamos principalmente sobre EaD, pois, ele é o contato, a interface, o tom que media um blog, um AVA, um site.
    Sua construção deve levar em consideração os ítens básicos de planejamento que todo o professor vivencia em seu processo de formação e que permeia toda a sua prática.
    Abraços!

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