Alivie o peso da sua consciência e da mochila do seu aluno com tecnologia


Já há algum tempo eles deixaram de ser meros telefones ou brinquedinhos. Está na hora de começar a levá-los mais a sério: os mobiles já estão na sua sala de aula, mesmo que escondidinhos, e não vão mais sair de lá!

Tablets e Smartphones
Tablets e Smartphones: eles podem ajudar a melhorar a qualidade de vida de alunos e professores

Um dos grandes problemas das escolas jurássicas é a estreiteza de visão de gestores e educadores sobre o impacto e a extensão da aplicação de novas tecnologias no processo educacional.

Já estamos todos cansados de repetir e concordar que nosso modelo escolar é ruim e precisa ser reinventado (só tapar o sol com a peneira já não dá mais). Já há um consenso muito bem estabelecido de que as novas tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) têm um papel fundamental nessa reconstrução. Porém, os falsos paradigmas da escola jurássica e o apego quase nostálgico a práticas e hábitos ultrapassados ainda sobrevivem e impedem que gestores e educadores promovam mudanças.

Em outros artigos [1][2][3] já discuti extensivamente o uso pedagógico dos mobiles (smartphones, tablets, minitablets, etc.) como meios de transformar a maneira como se ensina e propiciar novas formas de aprendizagem, de forma que o ensino se aproxime mais da dinâmica como o aluno aprende atualmente. Porém, há muito mais que podemos fazer pelos nossos alunos, e por nós mesmos, ao incorporar as novas tecnologias em nossa prática de ensino.

O uso das TDIC causa impacto dentro e fora da sala de aula e abrange algumas questões que raramente nos chamam a atenção, mas que se relacionam diretamente com as nossas práticas em sala de aula e na escola de maneira mais geral. Essas questões que, aparentemente, extrapolam o universo da sala de aula, são igualmente fundamentais se pretendemos uma escola feita para alunos e não apenas para professores e gestores terem um local para trabalhar.

Nesse artigo eu volto ao tema dos móbiles, mas com um enfoque que extrapola a prática de sala de aula para abarcar também a qualidade de vida dos nossos alunos. Como não poderia deixar de ser, retomo também o uso pedagógico dos móbiles e tento apontar alguns caminhos possíveis que eu mesmo e muitos outros estamos tentando trilhar.

A primeira proposta é simples: vamos rever o material escolar de nossos alunos e aliviar o peso de suas mochilas?

A segunda é mais complexa: vamos refletir sobre nossa capacidade de aplicar a nós mesmos as teorias que aprendemos na faculdade (Piaget, Vygotsky, Paulo Freire, etc. etc) e tentar uma ação concreta?

Mochilas escolares, dores e problemas posturais

Mochila escolar
A mochila escolar não pode pesar mais do que 10% do peso da criança.

Diversos estudos já mostraram que as mochilas escolares podem causar problemas posturais e quadros de dores nos ombros, costas e outras partes do corpo sensíveis a sobrecarga de peso transportado.

Segundo esses estudos a carga máxima que uma criança deveria transportar em sua mochila não deve ultrapassar 10% de seu peso. A conta é simples:

Carga máxima = 100 x (peso da mochila)/(peso da criança)

Se o resultado dessa conta for maior do que 10 isso quer dizer que a criança está transportando um peso excessivo e, provavelmente, terá problemas de saúde como consequência.

Há várias maneiras de tentar contornar o problema do sobrepeso das mochilas. Algumas são indicadas no final do artigo, nas referências de pesquisa na internet. Porém, a maneira mais simples de resolver o problema é simplesmente reduzir a quantidade de itens transportados.

Mas, que itens são transportados em uma típica mochila de criança do ensino fundamental ou médio? Vamos listar alguns:

  • livros: livros didáticos e apostilas, livros de literatura, gibis, revistas, dicionários de português e outras línguas, etc.
  • cadernos: caderno de várias disciplinas, cadernos de caligrafia, caderno de desenho, agenda.
  • materiais de apoio à escrita: lápis, caneta, lápis e canetas para desenhar e pintar, borracha, corretivo, régua e outros apetrechos de desenho, estojo para armazenar.
  • materiais variados: relógio, adesivos, tesouras, brinquedos, chaveiros, instrumentos musicais, calculadora, jogos, etc.

Se olharmos com atenção veremos que as mochilas são mini-papelarias ambulantes e mesmo retirando delas todos os itens supérfluos ainda restarão muitos itens pesados, sendo que, geralmente, estes são os mais importantes.

Estudos também mostram que o peso das mochilas aumenta conforme a idade e a série escolar de forma desproporcional ao aumento de peso das crianças. Nas séries finais no Ensino Fundamental as mochilas pesam bem mais porque os alunos transportam mais cadernos, dicionários e livros de diversas disciplinas.

Proposta 1: Aliviando o peso da mochila com tecnologia

Enquanto alguns professores ainda gritam desesperados para seus alunos desligarem seus smartphones e tablets e pegarem seus livros e cadernos, porque simplesmente não pedem que os alunos abram seus livros e cadernos no smartphone ou no tablet?

  • Em um único tablet, com pouco mais de meio quilograma, é possível armazenar todos os livros didáticos que o aluno utilizará, todos os dicionários que precisar, todas as enciclopédias sugeridas para consulta, tradutores, agendas, e milhares de outros materiais “escritos” para consulta.
  • Os tablets possuem aplicativos para produção de texto formatado, planilhas, gráficos, figuras, apresentações, ferramentas de desenho, ferramentas de escrita caligráfica, corretores ortográficos, etc. etc.
  • Com um tablet não há necessidade de dezenas de lápis coloridos, borrachas, tesouras, canetas, calculadoras, relógios, corretivos líquidos, réguas, compassos, etc. etc.
  • De brinde os tablets ainda levam em si máquinas fotográficas, filmadoras, aparelhos de som, televisores, calculadoras, cronômetros, jogos e aplicativos para todo tipo de coisa que se queira.
  • Com os tablets é possível fazer experiências sem ter laboratório na escola, simular situações que seriam impossíveis ou extremamente difíceis no mundo real, consultar professores virtuais, interagir com alunos de outras classes e escolas, etc. etc. É uma lista interminável!

Não é preciso ser um gênio da matemática para perceber que quase tudo que um aluno carrega em sua mochila pode ser colocado em um tablet ou mesmo em um smartphone (com algumas restrições devido ao tamanho da tela) com uma redução de peso e de volume absurdamente grande.

E o mais impressionante nisso tudo, e razão pela qual eu afirmo que os falsos paradigmas ainda sobrevivem na escola e nos atrasam cada vez mais, é que em muitas mochilas já encontramos um item muito bem escondidinho, porque é odiado por professores e gestores, mas muito importante: o tablet ou o smartphone!

Não adianta fingir: sua consciência anda abalada por causa das TDIC

Oras, convenhamos, se não fôssemos educadores diplomados e cultos, portanto inteligentes e sempre abertos às novas idéias, alguém que nos visse proibindo os alunos de usarem seus tablets na sala de aula nos acharia “um tanto desprovidos de bom senso” (para ser bem sutil).

Porque gestores e professores resistem de forma quase ingênua, para não dizer tola, à incorporação dessas tecnologias de forma natural em suas salas de aula? Porque querem que os alunos copiem suas lousas à mão e no caderno se eles podem simplesmente fotografá-las? Porque os alunos precisam levar livros pesados se esses livros e muitos outros poderiam estar digitalizados de maneira a não ocupar nenhum espaço e nem ter peso algum? Porque o aluno tem que escrever sobre uma folha de papel em seu caderno (parte de um cadáver de uma pobre árvore derrubada para essa finalidade) se eles podem escrever e desenhar da mesma forma, ou melhor ainda, sobre uma tela digital?

Fotografando a lousa
Fotografar a lousa é uma forma inteligente de copiá-la.

Há tantos porquês de difícil resposta nessa questão que é mais fácil refletirmos sobre o conjunto deles todos: Será que não estamos teimando em continuar na idade da pedra lascada sem nenhuma razão evidente que justifique isso? Porque nos apegamos tanto a paradigmas, práticas e idéias completamente obsoletas? Como podemos dormir em paz sabendo, lá no fundo de nossa consciência, que estamos agindo errado e de forma proposital?

Já está mais do que claro que além do usos pedagógicos que potencializam o ensino e a aprendizagem, os tablets e smartphones são escolhas saudáveis e inteligentes para substituírem uma infinidade de itens que de fato não precisamos mais ter dentro da mochila.

Porém, os tablets e smartphones também provém recursos para que não precisemos mais de uma série de práticas pedagógicas que também já não cabem mais em nossas salas de aula: nossa mochila pedagógica está cheia de entulho!

Aliás, porque ainda temos “salas” de aula e grades nas portas e janelas? Porque nossos alunos precisam ficar sentadinhos enfileirados como militares ou prisioneiros em formação? Porque temos horários rígidos e campainhas que nos empuram daqui para ali, como nas fábricas ou nas prisões? Porque a escola parece uma indústria-prisional de lavagem cerebral se ela se destina a gerar cidadãos livres e libertários, criativos e conscientes? São tantos porquês…

Proposta 2: Aliviando o peso da sua consciência com tecnologia

Proponho, além da reflexão sobre esses “porquês inexplicáveis”, uma ação concreta que nos permita passar de elementos passivos ou observadores críticos para atores criativos: vamos “chutar o balde”? Mesmo que você acredite (e não saiba racionalmente porque acredita) que o uso de tablets e smartphones é mais prejudicial do que benéfico, aceite o desafio de usá-los por dois meses (um bimestre!).

Combine com seus alunos que tragam para a aula seus smartphones, tablets, netbooks e notebooks e comece a propor que eles sejam usados em atividades rotineiras da aula como: copiar a lousa, escrever textos, pesquisar palavras em dicionários, assuntos em enciclopédias ou na internet, etc. Explore as possibilidades!

No princípio você estará bastante inseguro sobre “onde isso vai nos levar”. Afinal, é algo novo, e sempre nos sentimos inseguros diante de coisas que não dominamos, não conhecemos profundamente e nem somos capazes de controlar de forma absoluta (Ei, espere aí, a vida toda é assim, não é?).

Claro que para “chutar o balde” e passar de elemento passivo ou observador crítico para ator criativo, é preciso antes ter uma boa conversa com os gestores, os pais e os alunos. Afinal, somos educadores e não vamos propor que os alunos “tragam um novo brinquedo para a sala de aula”, mas sim que passemos a usar novas ferramentas para potencializar a aprendizagem e promover mudanças comportamentais importantes (para a aprendizagem, para a saúde, para a cidadania em um mundo moderno e tecnológico e para nosso próprio benefício, na medida que podemos desenvolver aulas mais produtivas e obter melhores resultados com menores esforços).

Também não pense que tudo sairá como planejado inicialmente, pois um dos novos paradigmas com os quais você terá que ir se acostumando é que nesse novo mundo, em constante e rápida transformação, todos os processos são dinâmicos e pouco controláveis, requerendo ajustes constantes e uma atenção contínua ao desenvolvimento.

Nem pense em contar com a adesão de todos à sua volta, pois o diferente ainda é visto como “estranho e perigoso”. Muitos colegas dirão que você está “conturbando a escola” (e estará mesmo!), que isso dificulta o trabalho deles (bobagem!) e, principalmente, que você perderá o controle (o que seria verdade se realmente alguém tivesse o “controle” nos dias de hoje).

Muitos alunos podem não ter esses recursos, então você também não poderá migrar 100% de sua prática para esse novo modelo. Mas também não é esse o objetivo aqui. O objetivo é iniciar agora mesmo, na sua escola e nas suas classes, uma mudança que já está em andamento em todo lugar e que não será freada por esforços retrógrados: a incorporação natural das novas tecnologias nas práticas de ensino e o desenvolvimento de novas práticas baseadas em um novo estilo de aprendizagem e comportamento manifestado pelas gerações de nativos-digitais.

Se o desafio lhe parecer “impossível ou muito improvável”, tenha em mente que já existem professores fazendo isso em salas de aula reais no mundo todo e, inclusive, no Brasil (ok, eu também sou um deles) e, segundo relato deles mesmos, tem dado certo! Todos os problemas e dificuldades listados acima podem ser contornados ou superados.

Se aceitar o desafio não se esqueça de

  • planejar antes de executar qualquer atividade e, durante a atividade, esteja preparado para lidar com todo tipo de imprevisto. Portanto, tenha na manga um plano B, C, D e uma boa dose de paciência e persistência;
  • sonhe alto, mas caminhe devagar e dê um passo de cada vez. As grandes obras se constroem lentamente. Na sala de aula as conquistas são incrementais, ocorrem aos poucos, nem sempre com todos ao mesmo tempo e, por fim, nem sempre terminam onde planejamos no início;
  • seja muito persistente; acredite de verdade que está construindo algo melhor do que já temos;
  • observe tudo atentamente e analise em tempo real as ações, comportamentos e mudanças na sua própria prática e na prática do aluno. Procure localizar as mudanças que planejou, mas tenha olhos para ver outras mudanças não planejadas que ocorrerão;
  • coloque-se no lugar do seu aluno. Mude seu ponto de vista. Tente aprender com eles as melhores maneiras de usar as ferramentas tecnológicas para atingir de forma mais eficiente os objetivos que você tem como professor;
  • procure outras pessoas que estão tentando usar os mobiles em sala de aula; a rede está cheia delas. Procure “aliados” na própria escola. Compartilhe, interaja e se insira na rede mundial, nos grupos de discussão, nas comunidades virtuais;
  • no final desse “bimestre experimental”, reavalie com seus alunos a possibilidade de continuar tentando inovar no próximo bimestre, e no próximo ano, e pelo resto da sua vida.

Se depois desse bimestre você concluir que não valeu a pena e resolver desistir (não recomendo mesmo!), tranquilize-se, pois pelo menos você terá saído de sua zona de conforto, terá sentido um desequilíbrio cognitivo que o levará a explorar sua zona de desenvolvimento proximal, terá desenvolvido novas habilidades em direção à aquisição de novas competências e, para todos os fins, terá exercitado na prática o novo paradigma de aprender a aprender.

Se resolver continuar adiante, terá aprendido que aprender sempre e aprender com novas tecnologias é divertido e desafiador e, por isso mesmo, os alunos também preferem aprender assim. Além disso, quando os mobiles, enfim, deixarem de ser vistos como vilões e passarem a ser vistos como essenciais na Educação, você já estará pronto para desenvolver novas metodologias para as próximas tecnologias que estarão surgindo, e não mais como agora, na incômoda situação de ter que lidar com algo que desconhece por completo, que nunca experimentou e, mesmo sabendo que é bom, não gosta (parece criança que não quer comer brócolis, não?).

Acredito que após dois meses persistindo no uso dos mobiles você poderá ter conseguido:

  • alunos mais produtivos, que agora terão mais tempo para se dedicar ao aprendizado e às suas explicações do que à tarefas ridiculamente ultrapassadas como “fazer cópias de lousa”;
  • criar uma rotina de uso em que o aluno (e você mesmo) passe a ver o tablet ou smartphone como uma ferramenta de trabalho escolar tão banal quanto o antiquíssimo caderno, porém mais divertida e funcional;
  • um menor nível de “indisciplina”, “desatenção” e “desinteresse” nas aulas pois, aquilo que é proibido e raro (como o uso atual dos smartphones e tablets na sala de aula) é muito atrativo e dispersivo, mas o uso regular desses aparelhos acaba retirando deles o “gosto pelo pecado” e os torna apenas materiais didáticos usuais, porém, mais divertidos e inteligentes;
  • criar novas dinâmicas de aula que incluam o uso da internet e de recursos de multimídia e computacionais como ferramentas banais, mas que podem tornar suas aulas mais completas e interessantes;
  • reduzir significativamente o peso e o volume de materiais didáticos e de apoio que os alunos trazem para a escola em suas mochilas e, com isso, estará também contribuindo para a saúde deles. E procure perceber que você também acabará reduzindo o peso que carrega na bolsa e na consciência;
  • criar em si mesmo e nos alunos a expectativa de que muito mais pode ser feito, muito mais há para se saber sobre essa nova forma de ensinar e aprender e, por fim, terá plantado uma sementinha onde antes havia apenas poeira velha e repisada de paradigmas capengas.

Bom, então, divirta-se!

Referências e sugestões na Internet:

(*) Para citar esse artigo (ABNT, NBR 6023):

ANTONIO, José Carlos. Alivie o peso da sua consciência e da mochila do seu aluno com tecnologia, Professor Digital, SBO, 15 ago. 2012. Disponível em: <https://professordigital.wordpress.com/2012/08/15/alivie-o-peso-da-sua-consciencia-e-da-mochila-do-seu-aluno-com-tecnologia>. Acesso em: [coloque aqui a data em que você acessou esse artigo, sem o colchetes].

O professor caiu na rede, e agora?


redes-sociais-virtuaisEnquanto alguns professores ainda resistem bravamente em manter sua aversão aos computadores e à internet e insistem na interação tradicional professor-aluno, outros já começam a experimentar a relação extra-classe virtual por meio das redes sociais on-line.

Em um primeiro momento o professor “perdeu o medo do computador” e passou a utilizá-lo para si mesmo de várias maneiras. Depois, seduzido pelas possibilidades de uso da rede (internet) e, principalmente, das mídias sociais interativas, como Facebook, Flickr, MySpace, YouTube, Twitter e Orkut, lançou-se de vez na rede. E agora? Como enfrentar as vantagens e desvantagens da super-exposição no mundo virtual?

Embora esse tema não seja ainda muito frequente no Brasil quando se fala da relação entre o professor e as novas tecnologias, os riscos da super-exposição de professores e alunos nas redes sociais já vem sendo debatidos há cerca de meia década nos Estados Unidos e na Inglaterra, onde as TICs já vem sendo utilizadas pelas escolas e pelos professores há mais tempo que aqui.

No início de 2012 o Departamento de Educação da cidade de Nova Iorque publicou o seu “Guia para o uso das Mídias Sociais” (NYC Department of Education Social Media Guidelines, disponível para baixar no final desse artigo), onde restringe de forma bastante radical a interação professor-aluno nos ambientes virtuais. Na inglaterra, no Condado de Kent, chegou-se a proibir os professores de possuírem um perfil no Facebook.

Seria preocupação excessiva? Fobia do mundo virtual? Ou há mesmo um risco real no uso das mídias sociais interativas que justifique esse “medo”?

No presente artigo vamos discutir esse tema e apresentar sugestões sobre os cuidados que o professor deve tomar ao utilizar-se das redes sociais, quer seja para si mesmo, quer seja para fins educacionais. Evidentemente muito do que será sugerido aqui vale também para outras categorias profissionais e, de forma ainda mais geral, para todos os usuários da internet.

Tô na rede, e agora?

Para quem chega à internet pela primeira vez, tudo parece como um infinito e complicado mundo de cliques, botões, links, e “programinhas”. Mas, passada a fase de “susto” inicial, rapidamente todos pegamos o gosto pela navegação e nos deslumbramos com as possibilidades de interação.

Para o professor que sempre teve dificuldade de conversar com seus alunos na própria sala de aula (por excesso de alunos, falta de tempo e uma extensa “programação curricular”), descobrir que uma mensagem sua publicada no Facebook pode ser rapidamente comentada por aquele aluno que nunca falou com ele na sala de aula, pode agora parecer uma revolução.

A rede atrai alunos, professores e todos nós por várias razões. Uma delas, com certeza, é a ampliação do universo de relacionamentos. Na rede fazemos muitos novos amigos, conhecemos pessoas interessantes, passamos a ter acesso à textos, vídeos, imagens e notícias que não tínhamos antes. A rede nos dá a possibilidade de acessarmos muitas fontes e, principalmente, nos permite “falarmos para muitos”.

Na rede não há distâncias, o tempo deixa de ser linear e a virtualização aparente das relações interpessoais nos dá uma falsa impressão de segurança e distanciamento. Vários estudos publicados sobre esse tema (inclusive um estudo interessante publicado em uma dissertação de mestrado em antropologia social defendida na Unicamp em 2008) já mostraram que essas características da rede nos tornam desinibidos e, em certas circunstâncias isso pode ser benéfico, mas, em outras, pode nos causar sérios problemas.

“Estar na rede” significa, basicamente, três coisas:

  1. Ter acesso a uma infinidade de fontes de informação sobre todo tipo de tema e em diversas formas de mídia;
  2. Ter a possibilidade de estabelecer inúmeros novos relacionamentos e construir novos círculos de amizades e interesses e;
  3. Expor-se para uma infinidade de pessoas desconhecidas com as quais se pode interagir de diferentes formas.

Se, por um lado, a rede é rica em novas possibilidades, por outro, nem todas essas possibilidades serão interessantes, importantes ou positivas.

Na rede fazemos novos amigos, mas também podemos fazer novos inimigos. A rede nos fornece todo tipo de informação e algumas delas são péssimas, quer porque sejam falsas ou falsificadas, quer porque sejam ilícitas ou, simplesmente, porque são inúteis. Na verdade apenas um número infinitamente pequeno de informações disponíveis na rede serão úteis para cada um de nós.

Da mesma forma como se pode encontrar qualquer coisa na rede, uma vez que você esteja nela você também passa a ser “encontrável”. Não apenas o seu endereço, nome, documentos, telefone, fotos e vídeos passam a estar disponíveis para todo o mundo como também todas as suas “interações na rede”. Quando se está na rede, parte significativa de sua vida fica lá registrada por meio de fragmentos cuja leitura nem sempre será favorável à imagem pública que você gostaria de ter.

Estar na rede é deixar de ser privado e passar a ser público. E essa super-exposição é um dos grandes fatores de risco do uso da internet e, em particular, das redes sociais.

Na verdade, mesmo que você nunca tenha participado diretamente das redes sociais, uma busca com seu nome e mais alguns dados agregados (como o nome da sua escola, da sua empresa ou o número do seu RG) podem já possuir muitos links que, reunidos, contam um pouco da sua história. Já experimentou fazer essa pesquisa?

Se você está na rede hoje, esteja consciente de que a rede é “quase-eterna” e continuará a existir depois que você se for. O que você publicar hoje ficará guardado “na nuvem” e estará acessível na rede até muito depois de seus bisnetos terem falecido. Sua história na rede nunca será apagada.

Professores, em especial, tem mais problemas em gerenciar esse complexo novo mundo virtual  interativo do que pessoas que não lidam diretamente com muitas outras pessoas (especialmente menores de idade) e que não têm um policiamento ético-moral tão intenso sobre si.

Professores ainda são vistos pela sociedade como “exemplos ético-morais”. Não se espera encontrar uma fotografia no Facebook de um professor bêbado em uma balada, segurando uma garrafa de bebida e uma das mãos, de camisa aberta e cambaleante. Ainda que isso não o torne um “mau profissional” e não signifique que no outro dia ele tenha chegado bêbado na escola para lecionar, uma cena como essa choca os pais e a sociedade em geral e pode virar motivo de bulling por parte dos alunos.

Além disso, quando expostos às redes sociais, os professores não podem vivenciar os mesmos conflitos que vivenciam em sala de aula, pois embora na sala de aula real os ânimos se acalmem após alguns minutos, na rede todos os conflitos onde ele se envolver serão expostos ao mundo inteiro e ficarão lá, expostos, pelo resto de sua vida.

Como reduzir essa possibilidade de “prejuízo da imagem pública” na rede? A resposta não é simples, mas tentaremos dar algumas sugestões separadas em três grupos: sugestões válidas para todos, as especialmente importantes para a Instituição Escola e, finalmente, aquelas importantes para o professor em particular.

10 cuidados que todos devem ter na rede

Sua imagem pública na rede é seu patrimônio mais valioso. Para construí-la pode ser necessário anos, mas para destruí-la basta um “momento de bobeira”. Ao contrário do “mundo real”, onde nossas ações geralmente são percebidas por poucas pessoas, no mundo virtual nossas ações são globais e perduram “para sempre”.

A lista de cuidados que todos deveríamos ter o tempo todo é bastante extensa, mas vamos tentar resumir a 10 pontos principais. Você pode fazer um exercício de reflexão e aumentar essa lista até que ela lhe pareça um bom “guia de comportamento na rede”.

  1. Evite, sempre que possível, fornecer informações pessoais que representem risco para sua segurança, tais como: situação financeira, dados bancários, informações de contato, documentos e números de cartão de crédito, informações familiares ou de amigos. Em muitas circunstâncias esses dados lhes serão solicitados e não há nenhuma garantia real de que esses dados serão mantidos em sigilo;
  2. Não exponha sua vida pessoal na rede. A vida é dinâmica, mutável. Os relacionamentos se constroem e se desfazem. Amores e empregos vão e vêm. Mas a internet manterá sempre uma memória de tudo o que você tiver exposto nela. É inútil imaginar que poderemos “apagar nossa história na internet”, por isso é importante que sua história na rede não tenha “momentos que deveriam ser apagados”;
  3. Não exponha a vida pessoal de outras pessoas na rede. Além de que isso é ilegal e poderá lhe render processos judiciais, ao expor outras pessoas na rede você cria riscos reais para essas pessoas. Comentários, fofocas, críticas e detalhes pessoais podem constrangir as pessoas e, quando feitos publicamente, podem caracterizar-se como crimes previstos em lei;
  4. Nunca acredite que na rede existam conversas pessoais, grupos fechados e ocultos, sites protegidos, relações de confiança ou sigilo de informações. Tudo que existe ou vier a existir sobre você na internet poderá ser acessado: suas conversas em chats, MSN, grupos de discussão, comunidades virtuais, redes sociais, etc. Tudo na internet é ou poderá vir a ser público;
  5. Nunca escreva nada que você não tenha certeza de que possa ser lido por qualquer um, em qualquer lugar e circunstância, sem que haja nenhum tipo de comprometimento pessoal seu. Mesmo assim você correrá sempre o risco de ser mal interpretado, interpretado fora do contexto em que escreveu, citado em outro local ou contexto, citado por pessoas que não conhece ou, ainda, poderá ser comentado, criticado e esculachado por qualquer um. Na internet você não escreve para uma pessoa ou grupo, você escreve para o mundo;
  6. Nunca publique imagens ou vídeos seus que possam denegrir sua imagem em alguma circunstância presente ou futura. Por exemplo, sua foto com ares de embriagues em uma festa poderá ser acessada pelo recrutador que vai decidir se lhe dará ou não um emprego daqui há cinco anos. Sua tórrida declaração de amor feita para sua paixão atual pode não soar nada bem para uma possível nova paixão surgida daqui a 10 anos.
  7. Evite, sempre que possível, entrar em discussões agressivas. Meça suas palavras e sempre tenha certeza de que a opinião que está expressando não extrapola os limites da lei e do bom senso. Alguns termos e expressões podem ofender não apenas o seu interlocutor na discussão, mas todo um grupo de pessoas que sequer estão participando da sua discussão, mas que poderão ser atingidas por seus comentários. Nunca responda a uma provocação no mesmo dia, dê um tempo até ficar mais calmo e então procure dar uma resposta ponderada ou simplesmente ignore a provocação;
  8. Antes de participar de um grupo de discussão, de uma comunidade virtual ou mesmo de um evento, procure conhecer o grupo, seus ideais e propósitos. Procure ser sempre construtivo e nunca “trollar” em um grupo. Lembre-se de que a memória da internet é eterna e que sua “trollagem” ficará associada a você até muito depois de você ter se arrependido dela;
  9. Não cometa cyberbulling. Não se iluda com a sensação de impunidade e de apoio por parte de um grupo. Cyberbulling é crime já tipificado em lei e não existe anonimato na internet para que você possa se esconder. Apelidos e avatares estão sempre associados à sua identificação real e, ao contrário das situações “presenciais”, onde as vezes se pode “ocultar as responsabilidades”, na internet todos as suas pegadas são registradas e o caminho que leva até você sempre pode ser refeito;
  10. Não desrespeite direitos autorais. Não publique textos, vídeos ou imagens que possuam restrições de direitos autorais. Se não tiver certeza de que pode publicar, não publique. Não distribua softwares, livros digitais, músicas, filmes ou qualquer outro material “pirata”. Isso é crime (mesmo quando compartilhado com apenas uma outra pessoa ou quando feito por meio de programas de troca direta de arquivos).

10 cuidados que a escola deve ter na rede

A Escola, como entidade jurídica que é, não publica nada e não participa da rede, senão pelas pessoas que o fazem em seu nome. Portanto, a primeira coisa a saber e lembrar é que toda publicação ou interação feita em nome da escola, em razão da escola ou com relação à escola, será uma publicação em que o autor, pessoa física, está assumindo a responsabilidade legal por uma entidade jurídica e poderá ser responsabilizado legalmente pelos efeitos dessa publicação.

A lista abaixo não inclui todos os cuidados possíveis, mas procura apontar alguns cuidados que os representantes da escola devem ter em vista.

  1. A escola é uma pessoa jurídica e não uma pessoa física. Cabe à direção da escola assumir a respossabilidade pela exposição pública da mesma, quer por meio de blogs, sites, comunidades virtuais ou redes sociais. Não cabe a professores e alunos criarem blogs, comunidades virtuais ou redes sociais em nome da escola, a menos que isso seja solicitado ou autorizado pelos responsáveis legais da escola;
  2. A escola não deve expor imagens, filmes ou dados pessoais de alunos para fins não pedagógicos e deve ter sempre a permissão de publicação, por escrito, dos responsáveis pelos alunos expostos. Da mesma forma, a escola deve regular e fiscalizar os espaços interativos onde ela permita que alunos e professores publiquem quaisquer materiais;
  3. A escola não deve expor na rede situações constragedoras para alunos e professores. Questões disciplinares, sanções e assuntos particulares (com alunos e professores) não devem ser expostos publicamente na rede;
  4. A escola deve ter uma política de uso geral e pedagógico da rede e das mídias sociais estabelecida em seu Plano Político Pedagógico;
  5. O regimento escolar, no âmbito da escola, e o contrato pedagógico entre alunos e professores, no âmbito da gestão de sala de aula, devem prever direitos, deveres, responsabilidades e sanções de professores e alunos com relação ao acessso, uso e abuso da rede e de seus meios de acesso no espaço escolar, físico ou virtual;
  6. A escola não pode exigir de alunos e professores ações, atividades ou interações pela rede sem dar garantias efetivas de acesso à rede e aos recursos necessários para que essas ações, atividades e interações possam ocorrer;
  7. A escola não pode cobrar, repassar custos ou quaisquer despesas para os alunos ou professores referentes ao uso da rede ou de recursos disponibilizados nela (salvo os casos de escolas particulares onde esses custos estejam previstos no contrato de matrícula);
  8. Quando uma escola se utiliza da rede de forma institucional ela deve entender que esse uso fica sujeito às mesmas condições, regras, leis e garantias que valem dentro de seu espaço físico real, garantindo assim a segurança dos dados dos alunos e não expondo-os à risco na rede;
  9. A escola que se expõe na rede deve zelar para manter sua boa imagem, bem como de seus alunos e professores, cabendo aqui, guardadas as devidas proporções, os mesmos cuidados sugeridos às pessoas físicas listados no item “10 cuidados que todos devem ter na rede”;
  10. Cabe à gestão escolar disciplinar o uso institucional da Escola na internet por parte de professores e alunos que obtiverem permissão para fazê-lo, orientando quando necessário e zelando para que esse uso não seja impróprio, corresponsabilizando-se, nesses casos, por esse uso.

10 cuidados que o professor deve ter na rede

O professor não é visto apenas como uma pessoa, um funcionário da escola ou um profissional do ensino, ele é visto também como um ícone, um modelo de pessoa de bem e de profissional da educação zeloso por seus alunos e por sua escola. Exige-se do professor que a todo momento e em qualquer circunstância ele demonstre comportamentos éticos e morais elevados. Dessa forma, o professor exposto na rede é quase que proibido de ser uma pessoa normal.

Ainda que essa descrição de modelo de professor pareça injusta, imprópria e praticamente impossível, é assim que a sociedade o vê e é isso que ela lhe cobra quando quer puni-lo por sua humanidade.

Ao professor é fundamental cuidar-se ao se expor na rede. A lista abaixo procura relacionar 10 cuidados considerados prioritários, mas você pode e deve aumentá-la sempre que encontrar outro cuidado que julgar importante. Da mesma forma, os cuidados listados abaixo não garantem, por si só, que o professor que participa da rede deixe de enfrentar problemas devido a essa exposição.

  1. Diferencie o pessoal do profissional. O ideal seria que cada professor possuísse dois perfis na rede: um perfil pessoal, onde o professor não mantém nenhuma relação com seu trabalho (escola, professores e alunos) e, outro, onde tratasse apenas de questões profissionais (com a escola, com os colegas professores e com os alunos e seus responsáveis). Como isso é difícil de se conseguir na prática, a sugestão é que o professor procure manter um perfil só, mas relações distintas entre os contatos pessoais e os profissionais;
  2. As relações entre professor e aluno, na rede, devem procurar se manter estritamente profissionais (da mesma forma como devem ser mantidas em sala de aula). Nesse sentido o professor deve entender as redes sociais como uma extensão de sua sala de aula. Isso implica em um cuidado muito grande com a linguagem e as “atitudes” expressas no mundo virtual da internet;
  3. Entendendo que “redes sociais” abrangem blogs, microblogs, flogs, fóruns, grupos de discussão, galerias de imagens, comunidades virtuais e todos os demais meios de publicação e interação na internet, cabe ao professor zelar por sua imagem pessoal e profissional em todas essas redes e espaços interativos. Por exemplo, embora o professor possa considerar o seu blog pessoal como um espaço “seu”, não é dessa forma que a sociedade vê seu blog, ela o vê como “o blog do professor” e não do “fulano de tal”;
  4. Atividades pedagógicas desenvolvidas na internet devem atender ao pressuposto de que todos os alunos envolvidos possuem condições reais de acesso aos recursos necessários para levar a cabo essas atividades, principalmente se essas tarefas tiverem caráter avaliativo ou se implicarem em aprendizagens que não terão equivalentes na sala de aula presencial;
  5. O professor não deve usar a rede para promover qualquer tipo de comparação, classificação ou discriminação de alunos que possa causar constrangimento ao aluno, seus colegas de classe ou de escola, ainda que essas discriminações sejam positivas e tenham como intenção a motivação dos demais. Isso aplica-se em especial aos resultados de avaliações, trabalhos ou atividades regulares da escola;
  6. Cabe ao professor zelar pelo bom exemplo de uso da internet publicando, divulgando e compartilhando apenas materiais didáticos ou similares de qualidade, com direitos autorais livres ou cedidos pelo autor. Da mesma forma, cabe ao professor que está na rede orientar seus alunos sobre o uso responsável da internet como parte de um “currículo transversal” necessário à convivência, ao aprendizado e ao aprimoramento da cidadania do aluno;
  7. Em nenhuma hipótese o professor deve comercializar ou prestar serviços remunerados na internet para seus próprios alunos ou outros da mesma escola (salvo os casos de escolas privadas onde essa prática esteja prevista no contrato de matrícula);
  8. Ao expor-se nas redes sociais o professor deve ter em mente que poderá sofrer bulling por parte de um ou mais alunos, familiares dos alunos, ex-alunos ou grupos onde participam seus alunos. Não cabe à escola responsabilizar-se por esses atos, defender legalmente o professor ou dar-lhe garantias de defesa, bem como não cabe à escola se responsabilizar pela sanção a esses alunos nos casos em que a própria instituição não estiver envolvida diretamente. Sendo assim, cabe ao professor evitar essas provocações e tomar as medidas legais cabíveis quando for o caso. Eis aí, portanto, uma boa razão para o professor agir apenas profissionalmente em suas relações virtuais com os alunos;
  9. O professor não deve compartilhar o seu perfil pessoal na rede (conta de e-mail, blogs ou login de ferramentas web 2.0) com seus alunos, colegas ou outras pessoas. Nos casos em que se desenvolva um projeto conjunto com os alunos (como a criação de um blog para uma classe ou projeto, por exemplo) deve-se criar um novo perfil para cada projeto (conta de e-mail, login, etc.);
  10. O professor é responsável por todas as suas ações envolvendo o nome da escola ou seus alunos, mesmo que partam de iniciativas desvinculadas do planejamento escolar (como postagens em um blog próprio, a participação em grupos de discussão, etc.), cabendo a ele responder legalmente por seus atos (publicações, participações em debates, comentários em blogs, etc.). Pensando nisso é mais uma vez recomendável que se evite relacionamentos, comentários, publicações e interações virtuais não profissionais.

Não é melhor sair da rede então?

Não! Nem pense nisso!

A rede é para onde todos caminhamos inexoravelmente. A sala de aula tende naturalmente a se estender para fora do limite de suas paredes ou dos muros da escola. A questão relevante aqui é compreender que ao mesmo tempo em que a sala de aula extrapola seus limites físicos e temporais, as ações e responsabilidades do professor e da escola não podem extrapolar os limites do profissionalismo para se confundirem com relações pessoais.

Quando o professor “cai na rede” ele leva sua escola e seus alunos com ele, querendo ou não. Pois, diversamente do “mundo real”, onde a sala de aula tem paredes e as aulas têm horários fixos, no mundo virtual não há uma distinção clara sobre onde começa e onde termina o papel do professor.

Há muitas possibilidades de uso pedagógico das redes sociais, para muito além da mera expansão das relações sociais entre pessoas ou da interação professor-aluno. Nas referências e sugestões na internet (logo abaixo) seguem alguns links de materiais que tratam especificamente desses usos.

Além do mais, é possível se manter exposto na rede sem comprometimento negativo da imagem pública do professor e com ganhos efetivos no seu relacionamento com os alunos e nas sua práticas pedagógicas. É claro que esse “novo mundo” exige também novas aprendizagens, novas abordagens e novos riscos. Talvez porque na medida em que extrapolamos os muros da escolas nos deparemos com uma escola ainda maior: a escola da vida.

Referências e sugestões na Internet:

(*) Para citar esse artigo (ABNT, NBR 6023):

ANTONIO, José Carlos. O professor caiu na rede, e agora?, Professor Digital, SBO, 01 jul. 2012. Disponível em: <https://professordigital.wordpress.com/2012/07/01/o-professor-caiu-na-rede-e-agora/>. Acesso em: [coloque aqui a data em que você acessou esse artigo, sem o colchetes].


TICs, telefones celulares e a escolassaura


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A escola é, talvez, a instituição mais jurássica de todos os tempos (por que vivo repetindo isso?). Embora ela tenha o compromisso de educar a geração atual para um mundo futurista que nem nasceu ainda, e nem sabemos como será, ela mesma ainda vive na pré-história em diversos sentidos e não tem o menor desejo de “evoluir”, pelo menos o suficiente para chegar perto dos tempos atuais. Mas antes de concordar com isso, pense bem, caro leitor amigo: a escola não se encerra nos limites de seus próprios muros, ela se estende por toda a sociedade, e você, caríssimo leitor, também é responsável por essa escola jurássica e suas idiossincrasias.

Enquanto escrevo esse artigo, tramita na Câmara dos Deputados o projeto de lei 2806/2011. Esse projeto é uma “extensão” de um projeto anterior que proibia o uso de telefones celulares em todo o país e, agora, “modernizado”, o projeto prevê a proibição de qualquer aparelho eletrônico portátil em todas as escolas e em todos os níveis de ensino, do infantil ao superior.

No Estado de São Paulo, na cidade do Rio de Janeiro, no Ceará e em Rondônia (e talvez também em outros estados e municípios, pois as más idéias se espalham rápido) já há leis específicas proibindo o uso de telefones celulares e outros aparelhos eletrônicos pelos alunos.

Ao invés de entrar em uma polêmica tola sobre “se devemos permitir ou proibir o uso de celulares, games e outros brinquedinhos eletrônicos em sala de aula”, eu lhes pergunto algo bastante simples e objetivo: em que momento algum professor, alguma escola, algum pai de aluno ou algum governo defendeu ou defenderá que os alunos devam ir à escola apenas para jogar videogame, assistir vídeos no Youtube, bater papo no MSN ou fotografar o professor tirando caca do nariz para depois publicar no seu fotolog?

A mim, e espero que a você também, parece evidente que a escola não é apropriada para esse tipo de “diversão”, assim como não esperamos o mesmo comportamento em uma missa ou em um enterro (olha, eu juro que tentei comparar com outras situações, mas a escola está mais para missa e enterro do que para festa de casamento).

Por outro lado, faça um esforço e tente se lembrar de sua infância… Agora pense: se quando você era criança e estava na escola você tivesse um telefone celular onde pudesse jogar videogame, fazer filmes sacanas do professor ou dos colegas, trocar mensagens e fofocas instantâneas, ouvir música, etc., etc., será que você não o faria?

Eu não posso responder por você, mas posso responder por mim mesmo. Eu faria sim, às vezes. E sei que seria punido por fazê-lo (mas mesmo assim faria!). Hoje eu não faço mais, mas hoje eu sou adulto e, como agravante, sou professor, tenho sempre que dar exemplo de “bom comportamento” e, a bem da verdade, de qualquer forma essas coisas já não me interessam mais.

Pois bem, o mundo mudou, a tecnologia se espalhou por todas as partes, as possibilidades são imensas mas, mas, mas… As crianças e adolescentes de hoje continuam sendo crianças e adolescentes como nós mesmos fomos um dia! A tecnologia só lhes fornece novos meios de fazerem suas traquinagens, e eles as farão até que se tornem adultos e, talvez, acabem como pessoas “xaropes” como eu e você.

Alguns adultos parecem que se esqueceram que já foram crianças e agora não entendem mais nada sobre a infância e a adolescência. Esses adultos acreditam que publicando leis poderão mudar a estrutura neurológica, os hormônios e a psicologia das crianças e dos adolescentes. Isso é tão ridículo que parece traquinagem de adolescente que possui um brinquedinho novo de “assinar leis”.

Fato: mais da metade das crianças entre 7 e 9 anos de idade possui um telefone celular. Quase metade dessas crianças não recebe nenhuma orientação de uso desse brinquedinho tecnológico por parte de seus pais ou de seus professores!

Pergunta: se crianças e adolescentes possuem celulares (que ganham dos pais!) e não possuem orientação alguma, nem da família nem da escola, sobre como utilizá-los em diversos ambientes e situações e, além de tudo, são crianças e adolescentes e não adultos xaropes, como se pode esperar deles que não levem seus brinquedinhos à escola e, estando lá, não brinquem com eles?

Smartphone Optimus Black
Eles são úteis aos alunos e aos professores

Em outro artigo publicado nesse blog, Uso pedagógico do telefone móvel (Celular), eu já tratei de diversas possibilidades de fazer um uso adequado desses aparelhinhos em sala de aula, então agora só quero compartilhar algumas experiências que talvez possam ser úteis para que professores possam conviver melhor com esses “monstrinhos divertidos” ao invés de apostarem em leis caducas que não serão cumpridas e entrarão para a história como a lei de Jânio Quadros que proibia o uso do biquini nos concursos de miss (pode rir agora, mas à época também havia polêmica e defensores da proibição).

Você não precisa de novas leis

A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) estabelece os direitos e deveres de todos os agentes envolvidos no processo Educacional. Estados e municípios também possuem legislações próprias garantindo direitos e deveres desses agentes.

O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) reforça a garantia à todos os alunos do direito à aprendizagem e, portanto, confere aos professores o dever de garantir esse direito em suas salas de aula.

Toda escola tem um regimento escolar interno que já estabelece direitos e deveres para alunos e professores.

Todo professor pode e deve estabelecer um regimento de conduta em suas aulas (o que chamamos vulgarmente de “combinados”) com os alunos.

Isto posto, fica claro que nenhum aluno pode, à revelia de todos os “combinados”, regimentos e leis, fazer o que bem entende na sala de aula, e isso inclui qualquer atividade que coloque em risco sua própria aprendizagem ou a aprendizagem dos seus colegas. Obviamente que aí se inclui qualquer brincadeira ou distração que não faça parte das atividades pedagógicas propostas pelo professor, quer seja ela feita com “brinquedos eletrônicos”, quer seja feita com brinquedos não eletrônicos (como jogar futebol dentro da sala, jogar baralho no fundão, andar de skate, etc.).

O que é fundamental aqui é que o professor esclareça seus alunos sobre seus direitos e, consequentemente, deixe claro as regras a que todos estarão submetidos para que se possa ter um ambiente saudável de aprendizagem onde esses direitos sejam respeitados por todos.

Não é óbvio para os alunos que eles têm que ter seu direito à aprendizagem garantido pelo professor e que, por causa disso, é o professor que pode e deve estabelecer quais usos são admitidos ou não para qualquer aparelho, objeto ou material presente na sala de aula.

No caso específico dos telefones celulares o professor deve deixar claro as situações em que esse aparelho será útil e aquelas onde ele deverá permanecer desligado.

É evidente que nem sempre os alunos seguirão as regras (Lembra-se? Eles são crianças e adolescentes e não adultos xaropes!) e toda vez que algum deles fizer uma transgressão ele deverá sofrer uma sanção proporcional à sua transgressão. Aqui é fundamental ter bom-senso e entender que ocorrerão várias transgressões, que será preciso ter paciência e compreender com naturalidade a natureza dessas transgressões e, por fim, que a autoridade do professor não pode ser abandonada em momento algum, da mesma forma que não pode ser transformada em autoritarismo. É preciso educar o aluno para o bom uso do celular e não brigar com ele quando ocorre um mau uso.

Minha experiência com o uso de telefones celulares em classe

A quase totalidade dos meus alunos possui telefones celulares e uma porcentagem considerável possui smartphones.

Em minhas aulas os alunos podem e devem trazer o telefone celular e usá-los dentro dos limites e regras que são discutidos, explicados e acordados logo no início do ano. Eu optei por permitir e estimular o uso pedagógico dos telefones celulares nas minhas aulas pelos seguintes motivos:

  • A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, para qual trabalho como professor, não possui condições para prover a escola de recursos materiais em quantidade suficiente para atender todos os meus alunos e, em contrapartida, a quase totalidade deles dispõe dos seguintes recursos próprios em seus telefones celulares:
    • calculadora;
    • agenda eletrônica;
    • bloco de anotações;
    • câmera fotográfica digital;
    • filmadora digital;
    • gravador de áudio digital;
    • acesso à internet;
    • dispositivo digital de reprodução multimídia (sons, imagens, filmes e animações);
  • Eu tenho um compromisso com a qualidade do ensino oferecido aos meus alunos que não me permite abrir mão de todos esses recursos oferecidos pelos telefones celulares;
  • O uso dos telefones celulares pelos meus alunos favorece sua aprendizagem permitindo práticas, dinâmicas e atividades que seriam inviáveis sem eles. Além disso, o uso dos celulares melhora a produtividade da aula permitindo ganhos de tempo e qualidade da aprendizagem;
  • Entendo que é parte do meu ofício como professor orientar meus alunos quanto aos bons usos do telefone celular de maneira a permitir-lhes que exercitem esse bom uso em atividades escolares cotidianas para que, por extensão, também o façam fora dos limites da escola (no seu trabalho, na sua casa e em diferentes meios de convívio). E eu não poderia fazer isso de forma efetiva sem que eles usassem os telefones celulares em minhas aulas.

Meus alunos usam telefones celulares regularmente para:

  • fazer contas usando a calculadora;
  • agendar tarefas e provas na agenda do celular;
  • fotografar as minha lousas (eu sugiro esse método, ao invés da cópia da lousa no caderno, porque são alunos do Ensino Médio, porque isso garante maior fidelidade da informação, porque isso é uma atividade sustentável que evita o uso de papel e porque o celular permite armazenar as lousas do ano todo em parte insignificante de sua memória). Eu mesmo fotografo minhas lousas para ter o registro exato do que foi trabalhado em cada classe;
  • fotografar materiais didáticos indisponíveis para toda a classe, como páginas de um dado livro que a escola não dispõe para a classe toda;
  • registrar por meio de filmes e imagens as atividades práticas no laboratório ou fora da sala de aula;
  • desenvolver atividades no laboratório ou fora da sala de aula usando recursos de multimídia e outros disponíveis no celular (áudios/entrevistas, vídeos, imagens, apresentações, calculadora, cronômetro, etc.)
  • pesquisar conteúdos na internet (para os que têm smartphones);
  • usar como fonte de material de consulta em “provas com consulta” (podendo usar o conteúdo da memória do celular ou o obtido via internet ou redes sociais).

Meus alunos não usam o telefone celular em classe para:

  • fazer ou receber ligações na sala de aula (isso eles podem fazer quando saem para ir ao banheiro);
  • jogar videogame, assistir vídeos, ouvir música, participar de redes sociais, navegar pela internet ou fazer qualquer outro uso que não tenha sido explicitamente solicitado por mim como parte de alguma atividade pedagógica;
  • produzir qualquer tipo de material (áudio, imagem, vídeo, etc.) não solicitado explicitamente por mim;
  • participar de redes sociais ou manter comunicações com outras pessoas, exceto quando isso faz parte de uma atividade e foi solicitado por mim.

Além disso:

  • Procuro orientar meus alunos sobre o uso seguro dos celulares e da internet de forma geral;
  • Discuto com meus alunos questões envolvendo ética, direitos autorais e violação dos direitos privados dos colegas;
  • Oriento-os a estabelecerem contratos de uso dos celulares com todos os demais professores, esclarecendo que cabe a cada professor determinar a forma como os telefones celulares podem ou não ser usados em suas aulas.

O número de vezes que tenho que intervir para garantir o uso correto dos celulares cai progressivamente ao longo do ano nas classes dos primeiros colegiais e é mínimo nas classes onde os alunos já me conhecem.

Nunca houve nenhum caso de mau uso do celular onde as sanções precisassem passar do nível da advertência verbal e discreta.

Os relatos de experiências de professores com os quais tenho contato em projetos que participo, nas redes sociais e em oficinas de formação onde atuo como formador dão conta de resultados bem parecidos com os meus. Logo, não apenas a “teoria” sobre o uso pedagógico do telefone celular, como também a prática, têm mostrado que é possível, viável e recomendável que ele seja usado cada vez mais em nossas aulas.

Finalmente, aos professores que imaginam que proibir o uso do telefone celular por meio de leis, ou da proibição do aluno levá-lo à escola, poderá ser um meio “mais fácil” de lidar com o problema do seu mau uso, eu deixo aqui uma pergunta bastante razoável: não seria mais “profissional” da parte do professor educar ao invés de proibir?

Referências na internet:

(*) Para citar esse artigo (ABNT, NBR 6023):

ANTONIO, José Carlos. TICs, telefones celulares e a escolassaura, Professor Digital, SBO, 30 jan. 2012. Disponível em: <https://professordigital.wordpress.com/2012/01/30/tics-telefones-celulares-e-a-escolassaura/>. Acesso em: [coloque aqui a data em que você acessou esse artigo, sem o colchetes].

Educação, TICs e diversão


Smartphone Optimus Black
Um microcosmos de possibilidades

As novas tecnologias digitais de informação e comunicação, e suas tecnologias associadas, nos tornaram mais preguiçosos, sem a menor dúvida. Veja, por exemplo, o controle remoto. Quem, em sã consciência, o dispensa para levantar da poltrona e ir até a televisão, apertar botões para mudar de canal?

E o que dizer do telefone celular atual, que evoluiu a tal ponto que pode ser usado até mesmo como controle remoto da televisão, ou ainda, incorporar em si mesmo a própria televisão?!

Se olharmos atentamente ao nosso redor veremos que estamos bem mais próximos do mundo dos Jetsons (para quem não sabe do que se trata, veja esse vídeo de 1 minuto: http://youtu.be/rGFTOoU62BA) do que do mundo dos Flintstones (confira aqui: http://youtu.be/2PPf3aaZmUw).

E nem adianta criticar esse “mundo novo” porque na maioria das vezes a crítica acaba sendo hipócrita, como a crítica do professor que condena seus alunos por levarem o telefone celular na escola, mas que não tira o próprio celular da bolsa porque sabe o quanto ele é útil e divertido. Que critica o aluno que não faz tarefas de casa, e ao invés disso fica horas na internet, mas, ele mesmo, não prepara muito aulas e passa horas no Orkut, cuidando de sua “colheita feliz” ou atirando passarinhos contra obstáculos.

Na verdade todos somos usuários das novas tecnologias e nem sempre o fazemos apenas de forma “profissional” ou “madura”. A tecnologia digital é cômoda e divertida. Por isso nos atrai tanto. Por isso nos distrai tanto!

A tecnologia não pode ser encarada como uma espécie de “aberração” em nossas vidas. Ela é uma consequência natural da inteligência e da criatividade humana. Abrir mão da tecnologia não deixa de ser, guardadas as devidas proporções aos mais puristas, abrir mão de nossa própria humanidade. Usá-la bem ou mal também depende muito mais da nossa “humanidade” do que da tecnologia por si mesma.

Diante desse cenário há quem queira parecer desolado, abatido diante das inexoráveis evidências de que o mundo mudou mesmo; mas, também há os hipócritas reacionários, os primitivistas e os deslumbrados. Felizmente, a meu ver, cresce cada vez mais a turma dos positivistas pragmáticos, a qual grosso modo me alinho, que vê na tecnologia possibilidades de um futuro melhor se aprendermos a usá-la de uma forma positiva.

E o que esse blá-blá-blá tem a ver com o contexto da Educação, da escola e dos nossos capengas paradigmas didáticos? Talvez tivesse pouca relação, se a escola fosse uma entidade sobrenatural existente em algum outro universo ou dimensão, porém, não é esse o caso. A escola onde aprendemos e ensinamos (ou não fazemos nem um nem outro) está toda ela embebida nessa tecnologia e, principalmente, nessa preguiçosa práxis tecnológica, exceto nos momentos de hipocrisia ou ingenuidade.

Alunos e professores todos os dias levam telefones celulares para a sala de aula (com ou sem lei que os proíbam). Os filmes, as músicas, os jogos, as relações interpessoais mediadas pelos protocolos da rede (física, lógica e social), estão presentes na escola, nas salas de aula, nos banheiros, nos corredores, nos pátios… Só não estão muito presentes, ainda, na didática dos professores, nos materiais didáticos e nas aulas de prática de ensino das universidades que formam os professores.

E porque será que é tão difícil incorporar na prática pedagógica essas ferramentas que já estão incorporadas no dia a dia de alunos e professores?

Talvez a resposta seja mais objetiva do que simplesmente culpar os bodes expiatórios de sempre: professores despreparados e desmotivados, alunos desinteressados e sem expectativas, governos incompetentes e mal intencionados, etc. A resposta pode estar bem diante dos nossos olhos. Talvez seja a mesma resposta que demos para justificar o desenvolvimento da própria tecnologia: inteligência e criatividade.

Incorporar as TICs nas práticas pedagógicas requer mais que oficinas de capacitação para uso de ferramentas (softwares e equipamentos) ou lavagem pedagogico-cerebral, tentando algum tipo de “convencimento” do professor. Talvez essa incorporação requeira um novo modo de olhar o mundo, novas competências criativas e, infelizmente, talvez isso não esteja ao alcance de todos professores, mas eu não gostaria de ter que tomar isso como premissa. Acho que ninguém gostaria de supor que exista uma “geração perdida de professores” e que, talvez, essa geração seja a nossa.

Vamos exemplificar isso tudo: um dia, talvez inspirado pelas “calçadas rolantes” do Jetsons, alguém inventou a “escada rolante”. Ela é muito útil para mover um número grande de pessoas simultaneamente, para cima ou para baixo, e substitui com grande vantagem as escadas convencionais e mesmo os elevadores. As encontramos em metrôs, shopping centers, grandes lojas, etc.

A escada rolante é um excelente exemplo de uma tecnologia que nos torna preguiçosos, pois embora as escadas convencionais sejam mais saudáveis (para a maioria das pessoas) é muito mais cômodo usar as escadas rolantes. Basta observar o movimento em um metrô, ou num shopping center, para confirmar que a grande maioria das pessoas opta pelas escadas rolantes quando têm a opção de escolher entre elas e as escadas convencionais.

Um professor “convencional”, desmotivado, mau pago e desacreditado, diria que o problema é que as pessoas hoje em dia tem uma péssima educação, não têm motivação para serem saudáveis e tendem sempre à vadiagem, optando assim pela escada rolante. Ele não perderia seu tempo tentando convencer ninguém a usar as escadas comuns ao invés das escadas rolantes, a menos que pudesse de alguma forma “obrigá-las” a isso. Já um professor deslumbrado com a tecnologia diria que as escadas rolantes são mesmo a melhor opção, pois poupam tempo, evitam desgastes nas juntas dos joelhos e ainda permitem que durante o percurso a pessoa fique “parada” e possa acessar o twitter ou o facebook . Ele jamais obrigaria alguém a “voltar no tempo” para fazer um trajeto “mais saudável”.

Assim, nenhum desses dois professores aceitaria a tarefa de fazer com que as pessoas escolhessem, algumas vezes e sempre espontaneamente, a escada convencional. Para ambos isso seria uma bobagem. Se recebessem essa tarefa, fracassariam (e encontrariam culpados facilmente, mesmo tendo argumentos opostos).

O professor que precisamos, no entanto, não é um que seja capaz de desistir diante do primeiro obstáculo, mas sim aquele que não recusaria essa tarefa e que seria capaz de mobilizar seus conhecimentos, sua inteligência e criatividade para executá-la, ainda que ela não seja trivial. Esse professor é o mesmo que consegue ensinar seus alunos a somarem e subtraírem, apesar de todas as dificuldades, com ou sem calculadoras e, acima de tudo, que consegue que seus alunos aprendam sem serem “obrigados”.

Causar essa “mudança de hábito” que pode levar o aluno a “aprender espontaneamente”, ao invés de optar por “não aprender” (que parece ser o caminho mais fácil), é possível e, se você já está impaciente para saber como, veja o vídeo abaixo e depois continue a leitura do texto.

Interessante, não? Tudo bem que isso não acontecerá em todas as escadas do mundo, não é simples e nem barato para se fazer e, ao fim e ao cabo, se a escada rolante for retirada as pessoas também subirão pelas escadas normais a um custo bem inferior. Mas não é isso que está em questão aqui. O que está no foco desse artigo é a “escada conceito” baseada naquilo que os criadores dessa campanha publicitária chamaram de “The fun theory” (Teoria da diversão) e que baseia-se numa premissa aparentemente sólida: é possível mudar o comportamento das pessoas tornando as coisas mais divertidas.

Ninguém mostrado no vídeo teve que ouvir palestras chatas sobre porque subir escadas pode promover uma saúde melhor, ninguém foi obrigado a subir pelas escadas convencionais porque lhe proibiram subir pela outra. Todos podiam optar pela escada rolante, se quisessem, e só não quiseram subir por elas aqueles que acharam “mais divertido subir pela escada piano”.

Em um paralelo com a sala de aula é como se fosse possível construir uma “aula conceito” mais divertida, interessante e instigante, que levasse o aluno a “desejar aprender aquele assunto”, mesmo não entendendo muito bem qual é a importância daquela aprendizagem para sua vida atual ou futura. Um “aula divertida”, nesse contexto, não é apenas uma aula “para se distrair”, mas sim para aprender. Certamente essa aula também não dever ser “fácil de ser criada”, envolve custos (de tempo e esforço, talvez dinheiro) e pode não ser assim em todas as aulas de um curso. Mas que tal pelo menos algumas?

Não é fácil ter uma idéia criativa como essa, mas se você consegue tê-la pode usar a própria tecnologia a seu favor para torná-la possível. Ai, talvez, as TICs tenham um papel decisivo. Também não é fácil para o professor ensinar o aluno a somar e subtrair (se fosse fácil, para que precisaríamos de professores?), mas é possível que alguns professores tenham idéias brilhantes sobre como fazê-lo. E talvez essas idéias sejam mais “inteligentes e criativas” se incorporarem as TICs.

Pode ser mais divertido jogar um videogame com adições e subtrações no telefone celular (aparentemente apenas para se divertir) do que copiar continhas da lousa e fazer no caderno centenas de operações de somar e subtrair, aparentemente também sem nenhuma razão e com o agravante de não ter nenhuma diversão; talvez as somas e subtrações possam ser contextualizadas, mesmo sem muita tecnologia digital; talvez possam estar inseridas em situações-problema do cotidiano do aluno…

Só o professor que não desiste sem antes tentar é que poderá ter a oportunidade de descobrir qual é o melhor caminho para isso fazendo uso de toda tecnologia que dispuser. E fazer bom uso das TICs para ensinar mais e melhor é exatamente o que podemos chamar de um “bom uso pedagógico das TICs”.

O uso pedagógico das TICs pode ser um caminho promissor para tornar o aprendizado escolar algo menos enfadonho e, talvez assim, consiga resgatar em alguns momentos a “diversão de aprender”. Pode não ser fácil encontrar soluções inteligentes e criativas o tempo todo, mas, podemos compartilhar as boas idéias de maneira a construirmos um conhecimento em rede. É a isso que chamamos de Sociedade do Conhecimento (não uma sociedade que conhece tudo, mas uma sociedade que constrói e compartilha conhecimento de forma eficaz por meio de redes sociais  interativas).

Ao professor também cabe construir tecnologia e compartilha-la. Não estamos falando de aparelhinhos tecnológicos, mas sim de tecnologias de ensino que possam tornar o aprendizado mais divertido, interessante, criativo e inteligente. Afinal, há uma boa chance de que um novo ensino, inteligente e criativo, ajude a desenvolver essa nova geração, preguiçosa como a nossa, mas também muito inteligente e criativa, para que a seu tempo ela possa assumir a condução dessa sociedade estranhamente tecnológica onde vivemos hoje.

Que tal começar a projetar a “sua escada”? Uma apenas, que seja. Depois você pode compartilhá-la com outros professores e, quem sabe, outros fazendo a mesma coisa e compartilhando com todos, um dia teremos muitas aulas-escadas por onde possamos elevar a qualidade do nosso ensino.

(*) Esse artigo foi revisto e reeditado em 15/05/2012.

(*) Para citar esse artigo (ABNT, NBR 6023):

ANTONIO, José Carlos. Educação, TICs e diversão, Professor Digital, SBO, 08 janeiro 2012 – revisto em 15 de maio de 2012. Disponível em: <https://professordigital.wordpress.com/2012/01/08/educacao-tics-e-diversao/>. Acesso em: [coloque aqui a data em que você acessou esse artigo, sem o colchetes].

Novos paradigmas de sala de aula


O texto desta postagem é uma contribuição de Gonçalo Margall, diretor da Sapienti.

Este blog aceita contribuições de textos sobre o uso pedagógico das TICs. Para maiores informações, entre em contato.

 

Novos paradigmas de sala de aula: cinco mandamentos para uma transição feliz

Gonçalo Margall*

Transformar uma sala de aula tradicional em um ambiente multimídia só produz os resultados esperados – alunos que aprendem mais e melhor – quando, em paralelo, acontece o mais importante: investir no professor, investir no professor, investir no professor

O uso das novas tecnologias educacionais na sala de aula está, hoje, num momento de profunda avaliação. Foi-se o tempo em que se comprava tecnologia por tecnologia; educação, algo fundamental para o crescimento e o amadurecimento de um país, não pode ficar nas mãos do mercado. Em todas as regiões do Brasil há, hoje, educadores e pesquisadores tentando mapear o quanto, de fato, o uso dessas soluções está ajudando o aluno a aprender mais e melhor, com menos problemas de comportamento, menos evasão escolar.  Isso vale para a rede pública de ensino e para a rede privada; isso vale para universidades e cursos profissionalizantes ou técnicos. Aprender é um trabalho duro que pode ou não ser facilitado pelo uso dessas novas tecnologias.

Pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas (FCC), por exemplo, avaliou o nível de aproveitamento de todos os alunos das escolas públicas do município de José de Freitas, no Piauí. São crianças que, desde 2009, estudam em salas de aula munidas das mais novas tecnologias interativas e multimídia (lousas digitais, laptops e tablets, softwares educativos, etc.). A pesquisa indicou que os alunos que tiveram aulas de Matemática neste ambiente melhoraram suas notas em 8.3 pontos em relação ao período letivo anterior. Os alunos que estudaram Matemática em salas com layout tradicional melhoraram apenas 0.2 ponto em relação ao período letivo anterior.

Essa não é a única pesquisa que tenta mensurar o quanto as novas tecnologias educacionais são mero modismo ou eficaz ferramenta de aprendizagem. No município do Guarujá, no estado de São Paulo, a rede pública conta com diversas escolas munidas de sala multimídia. Em uma dessas escolas, foi feito um comparativo para determinar o quanto essas novas tecnologias facilitavam o acesso do aluno ao conhecimento. A turma da Sexta Série A tinha aulas de Geografia em uma sala tradicional. Neste ambiente, 35% das crianças alcançavam médias satisfatórias; ao passar a ter aulas de Geografia numa sala multimídia, a percentagem de alunos que conquistaram notas satisfatórias saltou para 80%.

Essas pesquisas são a ponta do iceberg de um universo muito mais amplo. Ainda há muito a se avaliar sobre este tema. Mas já é possível definir algumas colunas do que seria o uso adequado – ou seja, que produz os resultados esperados – das novas tecnologias educacionais. Aqui vão os 5 mandamentos de como seria caminhar em direção à sala de aula interativa da forma mais eficaz possível:

1) Manter o foco no professor, e não na tecnologia. A mera instalação na sala de aula de equipamentos interativos não garante que a classe esteja tendo uma aula interativa, com acesso a novas experiências educacionais. Mais importante do que comprar o produto A ou B é investir tempo e dinheiro para ajudar o professor a se apaixonar por esta nova infraestrutura multimídia e, a partir daí, passar a desenvolver novas aulas. Esse é um desafio importante, e que depende da diretoria de cada escola e da visão de cada fornecedor de soluções educacionais para ser vencido. O professor tem de sentir que ganha, e muito, ao abandonar seus antigos métodos em sala de aula e passar a usar de forma criativa e provocadora as novas tecnologias. Mais do que capacitar o professor quando a nova tecnologia entra na sala de aula, é fundamental manter programas de formação continuada em longo prazo.

2) Oferecer para o professor acesso a uma comunidade para o desenvolvimento de novos conteúdos e novos modelos de aula. Não cabe ao fornecedor A ou B ou à entidade educacional C ou D ser a fonte de conteúdos revolucionários, que farão o melhor uso das novas tecnologias de sala de aula. Esses personagens podem e devem suportar o desenvolvimento desses conteúdos. É papel do professor, de pesquisadores, de especialistas em educação, “inventar” novas e atraentes aulas a partir do novo ambiente educacional. Comunidades locais, comunidades interligadas por redes sociais, comunidades internacionais e comunidades voltadas ao desenvolvimento de conteúdos específicos sobre disciplinas específicas (Português, Matemática, Ciência, etc.) são essenciais para suportar a missão do professor audaz, que anseia desvendar novos horizontes e cativar os alunos ao longo de toda esta caminhada.

3) Fale com quem usa esta tecnologia antes de comprar essas soluções. Procure visitar escolas que já tenham vivido esse processo de transição – migrar de salas de aulas tradicionais para salas multimídia – para saber a verdade sobre esta tendência. Vale a pena falar com os diretores, com os professores e, se possível, acompanhar aulas que aconteçam dentro da sala multimídia. Isso dará à pessoa que busca novos horizontes na educação a percepção do que realmente faz diferença para os alunos, o que é apenas uma mudança cosmética.

4) Prepare-se para aprender muito e mudar seus paradigmas. O verdadeiro educador sabe que tudo muda nesta área e que é impossível voltar ao passado. Em 1910, a Universidade de Chicago realizou um estudo para determinar por quanto tempo um aluno conseguiria prestar atenção à aula. Chegou-se à conclusão de que 50 minutos eram o tempo máximo que um professor conseguiria prender a atenção de um aluno. Estudos recentes realizados também nos EUA mostram que, agora, o tempo máximo de concentração limita-se a intervalos de 8 minutos. Em educação, a quebra de paradigmas não tem fim. O aluno que parece não estar prestando atenção na aula, checando mensagens no Twitter, pode estar procurando informações essenciais para a discussão em sala de aula; numa universidade, o aluno que troca mensagens via Facebook com seu amigo pode estar simplesmente realizando um trabalho em grupo.

5) Nunca esqueça a importância de um conteúdo bem construído. A infraestrutura da sala multimídia pode ajudar o professor a dar uma aula brilhante, atraente, que mantém os alunos conectados a ele todo o tempo. Mas isso não diminui a importância da sólida formação em conhecimentos, da capacidade de estar sempre atualizado. Esse é um valor eterno da educação. Com as novas tecnologias educacionais, a única diferença é que a forma de transmitir esses conhecimentos também é mais atualizada.

A beleza do momento que vivemos hoje é que muitos educadores estão decididamente caminhando ao encontro da cultura (inclusive cibernética) e dos comportamentos de seus alunos. Boa parte do corpo docente está pronta a ver na tecnologia uma aliada. Isso significa transformação.


*Gonçalo Margall é diretor da Sapienti, empresa pioneira no segmento de Tecnologia Educacional.

Professor X Inovação: uma batalha perdida?


Há duas décadas atrás havia uma pergunta bastante frequente quando se falava em computadores e novas tecnologias: “será que um dia os computadores vão substituir os professores?”. Era o início da chegada dos computadores de forma massiva e, assim como ocorreu com o surgimento do rádio, e depois da televisão, do videocassete e tantas outras inovações, eram muitas as dúvidas sobre a possibilidade do professor perder a sua “função” e vir a ser substituído por uma dessas maquinetas. Mas uma coisa era tida como certa por quase todos: apesar das dúvidas, havia no fundo a certeza de que o professor jamais seria substituído por nenhuma máquina ou sistema tecnológico.

Estávamos errados! O tempo passou e, de fato, o professor daqueles tempos perdeu mesmo sua “função” para o computador e para as novas tecnologias de informação e comunicação que foram surgindo. Ainda temos professores nas escolas, e continuaremos a tê-los por muito tempo (pelo menos pelo tempo que durar a escola formal), mas a “função” que esse professor tinha há 20 anos atrás já amarelou e se apagou como as fotos antigas, e hoje já pode ser dispensada.

Alguns professores mudaram sua forma de atuação e “evoluíram junto com a sociedade”, mas aquele professor cuja metodologia de hoje é a mesma de 20 anos atrás, esse já pode ser substituído pelos computadores com grande vantagem para o aluno e para a sociedade. Dito dessa forma pode até parecer cruel demais, ou mesmo um “exagero”, mas essa é a dura realidade que vemos nas escolas reais.

Há 20 anos atrás a escola era essencialmente conteudista, propedêutica, excludente, hierárquica e mecanicista. O professor era uma figura adaptada a seu tempo, porque a escola de então tinha as mesmas características fundamentais da escola de quando ele, professor, esteve sentado em seus bancos, e de quando seus professores a frequentaram. Na verdade, a escola como instituição formal de ensino, e o professor, como figura central no processo de ensino e aprendizagem, tem mantida suas características principais desde que foi trazida da Europa pelos jesuítas, ainda no século XVI.

Eu aprendi a ser professor com os meus professores. Os meus professores aprenderam com os professores deles, que aprenderam com os professores deles, que aprenderam… E a regressão continua quase “ad infinitum“. Professores não aprendem a ser professores apenas na universidade, em cursos de pedagogia ou licenciaturas, ou lendo “teorias educacionais”. Professores aprendem a ser professores com todos os seus próprios professores, desde a primeira série escolar até o último ano da faculdade (ou da pós-graduação). Professores reproduzem não apenas conhecimentos curriculares, mas também técnicas, comportamentos, atitudes e ideologias que assimilaram durante sua formação. Professores são, essencialmente, réplicas ligeiramente modificadas de outros professores. E, se não fosse assim, como teriam se tornado em professores?

É certo que com o passar de muitos anos o professor vai adquirindo sua própria personalidade pedagógica, da mesma forma que adquire sua personalidade individual, em uma eterna luta para superar aquilo que ele mesmo julgava falho nos modelos de professores que ele teve quando era aluno. Mas, se por um lado essa é uma atitude consciente do professor que busca sua identidade própria, por outro, há milhares de comportamentos inconscientes que apenas reproduzem os modelos que ele teve durante sua própria formação. O professor que não toma consciência da necessidade de mudar sempre, este acaba não mudando quase nunca.

O que nós, professores, fazemos hoje de forma diferente da maneira como nossos professores fizeram a seu tempo? O que podemos julgar inovador, moderno, ajustado aos novos tempos e benéfico para nossos alunos? Quantos somos realmente “originais”? Nossos alunos são diferentes a cada ano, o mundo é diferente a cada novo dia, e nossa escola? E nós, professores?

A arquitetura dos prédios escolares, a disposição das salas de aula, o quadro negro (ou branco, ou verde, pouco importa), o giz, a caderneta, o caderno de anotações, as provas e a forma de avaliação, os conteúdos curriculares, a dinâmica das aulas, as cadeiras enfileiradas, a relação hierárquica com os alunos…. O que mudou na escola? O que mudou em nossas práticas pedagógicas, em relação aos nossos próprios professores?

Para alguns de nós, professores, há uma percepção clara de que muita coisa mudou. Mas mudou no mundo, não necessariamente em nós mesmos. Vemos uma escola complexa, alunos complexos, uma sociedade complexa, uma tecnologia complexa… Mas não nos vemos nessa complexidade. Nem sempre queremos ser parte dessa complexidade. Ainda pensamos “simples”, de forma “linear”, somos pautados por exemplos de pensar e agir que foram os únicos que tivemos. Então tudo nos parece estranho e complexo. Por isso tendemos a julgar que tudo piorou: porque não compreendemos, e porque tememos e desgostamos de tudo aquilo que não somos capazes de compreender.

É nesse contexto que “perdemos nossa função”. A escola atual, os alunos atuais, o mundo atual e suas múltiplas complexidades já não precisam mais de um professor “simples”, “linear” e limitado a reproduzir apenas aquilo que já foi reproduzido nele mesmo por seus próprios professores. Devemos muito aos nossos professores, sem dúvida, mas devemos mais ainda aos nossos alunos. Nossos professores estavam certos, ao tempo deles, e nossos alunos estão certos agora, no tempo que a eles pertence. O erro, que muitas vezes dói em nós ao ser percebido, a ponto de fazermos tudo para não percebê-lo, é que muitos de nós ainda lecionamos como nossos pais, avós e bisavós pedagógicos.

O computador e as novas tecnologias não poderão nunca substituir o professor como figura central do processo de ensino e aprendizagem, mas certamente já pode exercer a “função” que muitos professores exerciam há 20 anos atrás e que alguns de nós ainda tenta exercer hoje: “servir de depósito de informações”. A internet é, com certeza, um repositório de informações e respostas prontas muito maior do que qualquer professor individualmente.

Se pudéssemos traduzir o pensamento que nossos alunos expressam em suas atitudes de pouco caso, desinteresse e mesmo de desilusão com a escola, estabelecendo um paralelo entre o que fomos, nós professores, e o que são eles, os nossos alunos de hoje, talvez encontrássemos algo como: “Já não precisamos de professores que apenas tragam as informações para nós, o Google é mais rápido e eficaz nessa função. Não precisamos mais de lousa, ou mesmo de livros, para apenas copiar textos e depois reproduzir em provas e trabalhos, pois um simples CTRL+C seguido de um CTRL+V faz isso por nós. Não podemos ficar 50 minutos oferecendo nossa atenção integral a um professor que faz um monólogo triste sobre um tema que não nos interessa; nós queremos mais ação, mais rapidez, mais objetividade, mais interatividade, mais mobilidade, mais socialização, mais desafios. Já não tememos vocês, professores, e não compreendemos o significado de ‘hierarquia’; não queremos ficar enfileirados o tempo todo e nem presos às nossas cadeiras, ou trancados em nossas salas. Enfim, não queremos ser como vocês foram“.

A opção pelo uso pedagógico dos computadores e das novas tecnologias não é, e jamais deve ser entendida como, simplesmente “uma nova maneira de maquiar velhas práticas educacionais”, mas sim uma opção ideológica por romper com essas práticas. Não se pode pensar no uso das novas tecnologias sem pensarmos na mobilidade da informação, mas também, na mobilidade dos alunos. Não se pode pensar no uso dos computadores e da internet sem termos em mente que eles implicam em novas dinâmicas de aula, novas abordagens curriculares e novos currículos, novas práticas de ensino, uma nova didática e novas regras de convivência social no ambiente da escola.

As TICs não cabem no espaço pedagógico reduzido e pobre da velha escola, elas precisam de uma nova escola, de um novo professor. Talvez por isso seu uso tenha sido um fracasso em muitas escolas. As TICs e os alunos já vivem uma sinergia natural fora dos muros da escola; não se pode inseri-las na escola apenas como uma muleta para uma pedagogia capenga. A escola tornou-se uma ilha de exclusão, um museu pedagógico de velharias didáticas. E esta ilha está afundando rapidamente no meio do oceano das novas tecnologias, novas metodologias de aprendizagem e novas práticas didáticas.

O professor que atua hoje como atuava há 20 anos atrás já perdeu a batalha contra as “modernizações” e já pode ser considerado um dinossauro pedagógico em extinção. Tudo o que ele pode fazer por seus alunos é ensinar história: a história de como éramos quando o mundo era muito diferente do que é hoje e ainda mais diferente do que será quando seus alunos já estiverem fora da escola formal. Qualquer computador conectado à internet pode dar mais oportunidades de aprendizagem ao aluno atual do que esse professor.

A causa primeira que levou esse professor ultrapassado a perder a batalha que todos pensávamos ser imperdível, a ponto de poder ser substituído por máquinas que não pensam, não foi apenas o descaso para com as novas tecnologias digitais, a preguiça que o impediu de continuar aprendendo sempre, ou toda a lista de dificuldades que esse mesmo professor aponta como razões para seu fracasso. O que tornou esse professor ultrapassado foi a falta da modernização de sua  tecnologia educacional. As TICs podem não ser a solução para os problemas desse professor, mas certamente são parte importante dos problemas que ele não soube enfrentar.

(*) Para citar esse artigo (ABNT, NBR 6023):

ANTONIO, José Carlos. Professor X Inovação: uma batalha perdida?, Professor Digital, SBO, 10 jun. 2010. Disponível em: <https://professordigital.wordpress.com/2010/06/10/professor-x-inovacao-uma-batalha-perdida/>. Acesso em: [coloque aqui a data em que você acessou esse artigo, sem o colchetes].

Uso pedagógico do GoogleDocs


O que é o GoogleDocs?

Google e suas ferramentas web 2.0
O Google é um paraíso da web 2.0

(*) O GoogleDocs já mudou para Google Drive desde que o artigo original foi escrito, no entanto, estamos mantendo o texto original com essa ressalva.

O Google é bastante conhecido por sua ferramenta de busca de mesmo nome e que lhe trouxe toda a popularidade que o nome tem hoje em dia, mas desde há muito o Google deixou de ser apenas um buscador para tornar-se um “paraíso da Web 2.0“.

Dentre toda a parafernália de ferramentas web 2.0 disponibilizadas pelo Google, vamos nos deter no pacote denominado GoogleDocs.

O GoogleDocs originou-se de dois produtos separados, adquiridos e modificados pelo Google: o Writely, um processador de textos colaborativo que pode rodar a partir da web, e o Google Labs Spreadsheets, uma planilha de cálculos também colaborativa e que pode rodar a partir da web. Assim começava a nascer o GoogleDocs, em 2006. Posteriormente foram incluídos um gerador de apresentações de slides e, mais recentemente ainda, a possibilidade de armazenar e compartilhar todo tipo de arquivo em 1 Gb de espaço de armazenamento gratuito.

Assim, hoje o GoogleDocs consiste em um pacote de programas de escritório semelhante ao Office da Microsoft ou ao BrOffice da Sun, com o diferencial de que é gratuito, online e permite a colaboração na edição dos documentos. Além disso os “docs” do GoogleDocs são compatíveis com os demais pacotes de ferramentas para escritório, podendo ser salvos, lidos e editados por qualquer um deles. Para acessar e poder usar o GoogleDocs basta ter uma conta no Google.

Para que serve o GoogleDocs?

O GoogleDocs serve para as mesmas finalidades que os pacotes de escritório vendidos comercialmente, como o Office, da Microsoft, ou distribuídos gratuitamente, como o BrOffice da Sun. Por ser um pacote de ferramentas de escritório o GoogleDocs nos permite criar, armazenar, compartilhar e distribuir documentos de texto em vários formatos, planilhas de cálculo e apresentações de slides.

O Google Drive (antigo GoogleDocs) oferece um pacote de ferramentas de escritório que são colaborativas e podem ser editadas online.
O Google Drive (antigo GoogleDocs) oferece um pacote de ferramentas de escritório que são colaborativas e podem ser editadas online.

Por ser uma ferramenta web 2.0, o GoogleDocs é gratuito e não requer licenciamento de uso, o que o torna uma excelente opção para quem não tem um pacote de escritório instalado em seu computador.

O acesso ao GoogleDocs pela Internet e o armazenamento dos documentos na própria web permitem que se possa acessar, consultar e editar os documentos de qualquer lugar com acesso à rede.

O fato de podermos compartilhar os documentos de várias maneiras, possibilitando tanto o acesso a eles para leitura quanto para edição compartilhada, nos permite também criar documentos colaborativos ou disponibilizar documentos apenas para consulta. É claro que também podemos manter esses documentos com acesso restrito apenas a nós mesmos.

Atualmente, com o Gears, também do Google, pode-se sincronizar os documentos do GoogleDocs com o seu computador desktop (ou notebook), permitindo que você possa editar os documentos localmente usando um navegador comum (IE, Firefox, etc.) e depois atualizar os documentos armazenados na rede assim que estiver conectado (o processo é automático). Isso nos dá a possibilidade de usar o pacote de escritório online de maneira offline e elimina de vez a necessidade de se ter um pacote de ferramentas de escritório instalado no seu computador.

O GoogleDocs também permite a criação de formulários online que podem ser usados para diferentes finalidades e gera automaticamente diversas estatísticas com os resultados coletados nesses formulários. Essa ferramenta é ideal para questionários de pesquisas, por exemplo. A cada formulário é associada uma planilha que pode também ser editada manualmente ou baixada para o seu computador se quiser realizar outras análises com ela.

Gráficos automáticos
Os formulários geram automaticamente gráficos com estatísticas de todos os itens do formulário

Como usar o GoogleDocs nas práticas escolares cotidianas?

Há uma infinidade de possibilidades de uso pedagógico ou de suporte às atividades do professor com o pacote de escritório do GoogleDocs. Abaixo procurarei listar algumas, mas outras sugestões de usos serão bem-vindas e podem ser feitas nos comentários desse artigo (e depois serão incorporadas à lista do próprio artigo):

  1. Uso do editor de texto: o editor de texto do GoogleDocs, além do óbvio uso como editor de textos mesmo, também permite a criação de textos compartilhados. Assim, por exemplo, o professor pode propor a criação de textos de forma colaborativa por equipes de alunos e criar um doc compartilhado por todos de uma mesma equipe e pelo professor. O GoogleDocs permite que até dez pessoas editem um documento simultâneamente e esse documento pode ser compartilhado com até 200 pessoas. Essa possibilidade de uso e edição compartilhada é útil para, entre outras possibilidades:
    • propor produção de textos colaborativos;
    • propor a realização de trabalhos em grupo;
    • criar glossários dinâmicos.
  2. Uso das planilhas eletrônicas: as planilhas eletrônicas também podem ser compartilhadas e editadas simultâneamente, o que permite usos parecidos com o do editor de textos e outros mais apropriados para as funcionalidades de uma planlha, como a disponibilização de notas e mesmo de uma lista de presença que pode ser preenchida pelo professor e disponibilizada instantaneamente para os pais dos alunos ou para a secretaria da escola. Outros usos possíveis são:
    • disponibilizar atividades que possam ser realizadas com o uso de planilhas eletrônicas. Esse caso é especialmente interessante para a disciplina de matemática, pois além de possibilitar uma melhor compreensão da aritmética e da álgebra, também permite a criação de gráficos e a compreensão de seu funcionamento;
    • os gráficos gerados a partir das tabelas também são especialmente interessantes para disciplinas que os utilizam bastante, como a física, a biologia e a geografia;
    • uso como “banco de dados”, pois as planilhas eletrônicas permitem armazenar dados de forma organizada, recuperá-los de forma simples e manipulá-los de forma automatizada, mesmo em se tratando de muitos dados.
  3. Uso de apresentações de slides: as apresentações de slides são particularmente interessantes como ferramenta de apresentação de conteúdos, informações e esquemas didáticos com um visual atraente. O GoogleDocs permite também que se faça edição colaborativa dessas apresentações e que elas sejam compartilhadas online. Algumas possibilidades de uso para as apresentações de slides são:
    • produção de conteúdos didáticos pelo professor, esquemas didáticos e resumos;
    • produção e apresentação de trabalhos pelos alunos (lembrando que a edição compartilhada facilita o trabalho colaborativo de grupos de alunos);
  4. Uso dos formulários online: os formulários online do GoogleDocs estão associados à planilhas e constituem um meio simples e rápido de coletar informações, gerar apresentações gráficas e análises estatísticas de dados. Alguns usos possíveis:
    • produzir questionários sócio-econômicos dos alunos;
    • produzir diagnoses e pesquisas com os alunos ou com os pais, pois os formulários podem também ser acessados da casa dos alunos;
    • produzir pequenos testes e provas, ou atividades que os alunos possam realizar de forma autônoma e fora da escola.

Há ainda uma possibilidade de uso muito interessante que é a disponibilização de qualquer um desses docs na internet e sua incorporação em um blog, por exemplo. Abaixo vemos essa funcionalidade para um doc que eu criei no GoogleDocs e então armazenei no Slideshare (infelizmente não é possível ainda incorporar o documento diretamente no wordpress.com, mas outros blogs aceitam a incorporação usando a tag “iframe”):

Você também pode simplesmente postar a url do doc compartilhado no GoogleDocs (http://docs.google.com/View?id=dfgdhntd_1dktkd9cp) ou colocá-la como um link, como nesse exemplo aqui.

Neste exemplo o documento compartilhado não aceita edição por outras pessoas, mas poderia aceitar se eu tivesse feito essa opção (e posso mudar a qualquer momento, se eu quiser).

Grande parte da documentação do professor (caderneta escolar, listas de chamada, planejamentos, etc.) pode ser colocada na Internet e compartilhada publicamente. Pesquisas, diagnoses, testes e avaliações podem ser gerados e depois utilizados diretamente pela Internet. Os alunos podem produzir trabalhos de forma colaborativa e usar as ferramentas de um pacote completo de escritório mesmo que os seus computadores não possuam nenhum. Até mesmo a própria secretaria, a coordenação e a direção da escola podem usar essa ferramenta web 2.0 para produzir, disponibilizar e compartilhar documentos (como o horário de aulas, o calendário escolar, etc.), e com a vantagem de não ter que hospedar esses documentos localmente.

Documentos específicos e particulares também podem ser armazenados no GoogleDocs, mas aí deixamos de lado os fins pedagógicos  e educacionais dessa ferramenta, por isso não vou entrar nos detalhes desse tipo de uso.

O GoogleDocs permite atualmente que qualquer tipo de arquivo seja armazenado nele e compartilhado na web. Isso nos possibilita criar uma biblioteca compartilhada a partir de uma pasta pública. Além disso, a estrutura dessas pastas tem a mesma apresentação da estrutura de pastas de um HD de um computador comum e facilidades como “arrastar e soltar”, “copiar e colar”, etc. Resumindo: é tudo muito intuitivo e prático.

Também vale lembrar que tudo está em português e que o sistema de ajuda do GoogleDocs é muito bom.

Se você ainda não usa o GoogelDocs e outras ferramentas web 2.0 de produtividade, talvez esse seja o momento de começar a usá-las. A aprendizagem é rápida e não requer nenhum tipo de curso ou formação específica. Já para aprender a usar editores de texto, planilhas eletrônicas e geradores de apresentação de slides, sugiro uma busca simples na propria Internet e, se necessário, peça ajuda aos seus alunos (eles certamente saberão ajudá-lo).

(*) Para citar esse artigo (ABNT, NBR 6023):

ANTONIO, José Carlos. Uso pedagógico do GoogleDocs, Professor Digital, SBO, 08 fev. 2010. Disponível em: <https://professordigital.wordpress.com/2010/02/08/uso-pedagogico-do-googledocs/>. Acesso em: [coloque aqui a data em que você acessou esse artigo, sem o colchetes].

Pesquisa escolar na Internet: Ctrl+C & Ctrl+V versus Cópia Manuscrita


Classe tradicional
Enquanto as redes se desenvolvem com computação quântica e teoria do Caos, a escola insiste em querer manter uma ordem que nunca existiu.

Este é mais um relato de case sobre como práticas obsoletas tendem a resistir em ambientes onde os novos paradigmas de aprendizagem introduzidos pelo uso das TICs não são bem compreendidos pelos educadores e sobre como e porque isso deve ser mudado.

A situação em questão deu-se na escola do meu filho, que agora cursa a quarta série de nove anos (antiga terceira série). A escola é uma escola particular de uma cidade média do interior paulista que atende a um público das classes C e D (classe média e média baixa) e todas as séries, do Maternal ao Ensino Médio, incluindo alguns Cursos Técnicos. É uma escola grande e tradicional, porém bem cuidada e com uma boa qualidade de ensino comparada à média das escolas paulistas.

Embora a escola seja tradicional e não tenha nenhum enfoque significativo no uso pedagógico das TICs, como muitas outras, ela oferece algumas “aulas na sala de informática”, mas são raros os professores que utilizam as TICs de forma significativa em suas práticas ou com seus alunos e a escola não oferece suporte para esse uso em sala de aula. Assim, o perfil pedagógico dos professores e de suas aulas é o perfil tradicional de uso da lousa e do giz como suas principais ferramentas tecnológicas.

Este case trata da forma truncada e superficial como a pesquisa na Internet é vista pelo corpo docente (e pela escola) e sobre como é possível propor mudanças nessas concepções a fim de se mudarem também algumas práticas pedagógicas que visem promover uma melhor adequação da escola à realidade do aluno atual.

Papiro antigo.
Papiro antigo. Podemos copiá-lo na íntegra sem que, no entanto, saibamos o significado de nenhuma de suas palavras.

Resumidamente, o problema discutido aqui pode ser descrito como se segue: “A professora da quarta série de nove anos, em reunião de início de ano, anuncia que durante o ano serão solicitadas algumas pesquisas aos alunos e que estes devem devolver suas produções em papel, com textos copiados à mão”. A justificativa para tal proposta é que “os alunos tendem a copiar e colar integralmente os textos que encontram na Internet”.

Embora essa metodologia possa parecer que faça algum sentido e sua justificativa pareça ser “bem intencionada”, e assim foi compreendida pela quase totalidade dos pais presentes à reunião, veremos a seguir que esse tipo de atividade de pesquisa escolar, onde se usa a Internet como uma das fontes de informação, não condiz com a metodologia proposta (cópia à mão e apresentação em papel) e que, essa metodologia de cópias à mão não apenas é obsoleta como também é sensivelmente prejudicial à aprendizagem dos alunos.

O problema da pesquisa escolar na Internet

Já dispomos de milhares de publicações, livros, artigos e papers tratando do uso da Internet como ferramenta de pesquisa e é um consenso entre educadores que utilizam as TICs que a Internet é, sem dúvida, a maior fonte de pesquisa disponível de forma acessível aos alunos. Portanto, não pretendo focar aqui na utilidade da Internet como fonte de pesquisa, o que estou dando como fato concreto, e sim nas mudanças do percurso de aprendizagem dos alunos ao utilizarem a Internet como meio de obtenção de informações e na necessidade de compreender essas mudanças para ensinar melhor e permitir que o aluno aprenda mais.

Toda pesquisa é, em sua essência, uma coleta de informações a partir das quais se podem produzir resultados variados, que vão desde o uso imediato da informação coletada até a produção de novas informações e novos conhecimentos a partir da análise, desconstrução e reconstrução dos conhecimentos obtidos com a pesquisa.

A pesquisa escolar, quando voltada aos alunos do Ensino Básico e, em especial, aos alunos do Ensino Fundamental, visa objetivos bastante amplos, dos quais, para efeitos ilustrativos, relaciono apenas dez objetivos gerais e mais cinco relativos ao uso das TICs:

  1. desenvolver atitudes autônomas de busca de informações;
  2. desenvolver a habilidade de usar diferentes meios de pesquisa (livros, revistas, entrevistas, experimentações, Internet, CDROMs e muitas outras fontes);
  3. desenvolver a habilidade de leitura e interpretação de textos;
  4. expandir o universo textual do aluno, colocando-o diante de diferentes formas de linguagem (textos com diversas formas de linguagem, figuras, gráficos, ilustrações, imagens, filmes, etc.);
  5. desenvolver a capacidade de análise e síntese das informações (respeitado o nível de desenvolvimento cognitivo da série e faixa etária do aluno);
  6. desenvolver habilidades artísticas relativas à apresentação gráfica dos trabalhos de pesquisa produzidos, fazendo-se uso de imagens e ilustrações diversas, bem como de programas e instrumentos de produção artística;
  7. desenvolver a habilidade de escrita, reescrita e produção textual;
  8. desenvolver habilidades de comunicação ao apresentar os resultados da pesquisa;
  9. desenvolver habilidades de trabalho colaborativo (pesquisando-se em grupos e contando com apoio de adultos);
  10. trabalhar questões de ética e cidadania relativas à propriedade intelectual;
  11. desenvolver habilidades no uso das TICs (computadores, Internet, gravadores, filmadoras e outras tecnologias de pesquisa, armazenamento de informações, tratamento de textos e imagens, etc.);
  12. desenvolver habilidades de pesquisa usando-se bancos de dados não classificados (uso da Internet);
  13. desenvolver habilidades de comunicação digital (produzir textos, apresentações, filmes e outros materiais em mídias digitais, trocar informações e colaborar por meios digitais);
  14. desenvolver habilidades de publicação digital (publicar em blogs, comunidades, galerias de imagens, etc.);
  15. desenvolver habilidades de integração de diferentes mídias (uso de multimídia: texto,som e imagem).
Google
Os “buscadores” são parte de uma revolução gigantesca na forma de se acessar informações dispersas por todo o planeta.

Embora o universo de aprendizagens relativo à pesquisa escolar seja imenso, poucos são os professores que têm consciência da maioria dessas possibilidades de aprendizagem e, portanto, poucos planejam pesquisas voltadas a essas aprendizagens – principalmente as cinco últimas listadas, que dizem respeito ao uso das TICs. O resultado que normalmente se vê, e se critica, são trabalhos de pesquisa que consistem basicamente nos processos de Ctrl+C & Ctrl+V, ou seja, na cópia e cola de textos ou excertos de documentos e imagens que depois são impressos e entregues ao professor.

Vendo-se diante do problema de receber trabalhos de pesquisa que são meras cópias, muitos professores tentam impedir que o aluno faça uso do computador e da Internet e, nessa tentativa, solicitam que os alunos lhes entreguem os trabalhos “escritos à mão”, como se “escrever à mão” fosse alguma espécie de garantia de que o aluno fez o trabalho ao invés de apenas copiá-lo. Argumentam também que, tendo que copiar à mão, o aluno é obrigado a ler o texto que está copiando. Esquecem-se, esses professores, de que “copiar à mão” é tão somente uma forma rudimentar de cópia e que todos nós podemos copiar textos escritos em línguas que não compreendemos sem cometer nenhum erro gramatical e sem compreender absolutamente nada do que estamos copiando.

As origens do problema

Monges copistas
Monges copistas (Gravura do século XIII). Sugestão de filme sobre o tema: “O nome da Rosa”.

Com o advento das tecnologias digitais, e principalmente da Internet, as queixas sobre pesquisas escolares copiadas na íntegra parecem ter aumentado muito e a facilidade com que se pode copiar textos integral ou parcialmente dá-nos a idéia de que a Internet criou uma cultura de copiar e colar que até então não existia. Mas isso não é verdade. A reprodução de textos na íntegra ou de excertos reorganizados em um novo texto é uma prática que remonta o advento da escrita.

Os alunos sempre copiaram textos nas pesquisas escolares e os trabalhos que eram antes entregues com cópias à mão não possuíam um conteúdo melhor do que os que são hoje copiados eletronicamente. Na verdade os trabalhos copiados eletronicamente são bem mais ricos em informações e conteúdos do que os de “antigamente” porque a mídia digital permite agregar mais textos e imagens com um custo de elaboração muito menor.

A única diferença entre os trabalhos copiados antes da era da Internet e os trabalhos copiados agora está no pressuposto altamente questionável de que ao fazer uma cópia “à mão” o aluno aprende aquilo que copia. Esse pressuposto é questionável porque a prática da cópia manuscrita não implica em aprendizagem do conteúdo que se copia e a leitura empregada em uma atividade de cópia não tem o caráter de busca de compreensão do texto copiado.

Pesquisas escolares apresentadas como simples cópias de textos, sejam eles obtidos na Internet ou em algum livro da biblioteca escolar, originam-se de uma série de fatores que estão diretamente ligados à atuação do professor. Dentre eles cito alguns:

  1. Falta de planejamento pedagógico do professor. Como em qualquer atividade pedagógica, é preciso ter claros os objetivos, recursos, métodos, formas de avaliação e redirecionamentos futuros. Pesquisas precisam ser “planejadas como projetos” e não apenas “solicitadas como atividades”;
  2. Falta de clareza na proposta de pesquisa e falta de orientação adequada aos alunos sobre os procedimentos envolvidos em uma pesquisa escolar de forma geral. Os alunos precisam ter claros os procedimentos que terão de empregar para executar a pesquisa. Isso equivale a produzir e distribuir inicialmente aos alunos um rubrica de avaliação do trabalho de pesquisa solicitado a eles;
  3. Forma pobre com que a pesquisa é proposta, geralmente como uma “coleta genérica de dados”. Trabalhos de pesquisa são bem mais interessantes quando propostos como “caça ao tesouro”, “webquest”, “desafios” e “problemas abertos” que demandem a pesquisa proposta como ferramenta de resolução e não como produção final;
  4. Falta de disposição do professor para analisar as produções de maneira crítica e construtiva, resumindo-se apenas ao trabalho de “coletar e classificar a pesquisa”. Se, por um lado o aluno usa do artifício de copiar e colar, por outro, muitos professores apenas “pesam o trabalho” e o avaliam pelo número de páginas ou pela apresentação visual, sem realmente analisarem a pesquisa em si, o roteiro de produção do aluno e, principalmente, a efetividade da aprendizagem decorrente da pesquisa;
  5. Abandono intelectual do aluno durante o processo de pesquisa. Para muitos professores o aluno deve ser capaz de fazer, de uma única vez e sem apoio do professor, uma pesquisa que retorne exatamente o que o professor deseja e da forma como ele gostaria que a pesquisa fosse feita. Uma pesquisa escolar é um processo que precisa ser assistido, apoiado e redirecionado enquanto ocorre e não apenas avaliado depois de finalizado.

Portanto, a origem do problema da metodologia de copiar e colar empregada pelos alunos não está em uma “falha de caráter dos alunos”, na sua “preguiça de ler e resumir” ou na “facilidade com que se pode copiar e colar textos inteiros ou excertos e imagens da Internet”, mas sim na incapacidade do professor de propor, apoiar, acompanhar e participar com o aluno de pesquisas onde a cópia pura e simples não atenda aos requisitos previamente definidos na tarefa.

Se o professor quiser ensinar ao seu aluno sobre energia solar e seu uso e, para tanto, pedir ao aluno que simplesmente “faça uma pesquisa sobre energia solar”, ele retornará com uma grande pilha de papéis que podem não ter nenhuma relação com a informação que se gostaria que ele tivesse acessado e compreendido, mas que certamente terão alguma vaga relação com o tema “energia solar e seus usos”. Mas se o professor propor ao aluno que construa um “fogão solar” ele certamente fará pesquisas sobre energia, energia solar, fogões, usos da energia, etc., e, possivelmente, terá que conversar com outras pessoas, solicitar mais ajuda, coletar dados, resumir, ler e compreender, obter recursos, criar um protótipo e ser capaz de apresentá-lo, explicando seu uso e a relação entre a energia solar e o aparato tecnológico propriamente dito. Para isso tudo ele consultará a Internet e talvez copie e cole muitas coisas, mas ao final ele não retornará simplesmente com uma pilha de papéis cujo conteúdo ele mesmo desconhece.

Observe que no exemplo acima a pesquisa é tratada como um “processo” e não como um fim em si mesma.

Os novos percursos de aprendizagem com o uso das TICs

A solução proposta pela professora do meu filho, que consistia em “exigir que o aluno copiasse sua pesquisa à mão” é uma das muitas soluções que nada solucionam e sobre as quais pouco se reflete. Além dessa, também há outras soluções igualmente esdrúxulas, como fazer uma prova para comprovar que o aluno aprendeu (que leva o aluno ao duplo fracasso se ele fracassou na pesquisa) ou apresentar trabalhos de pesquisa individuais e “diferentes” dos trabalhos dos colegas que pesquisaram a mesma coisa (que se baseia no pressuposto errado de que todas as pesquisas sobre um mesmo tema devem resultar diferentes).

Para entender porque a solução proposta pela professora do meu filho é uma péssima solução é preciso entender o processo pelo qual meu filho, e o aluno da atual geração digital, faz uma pesquisa escolar usando as tecnologias digitais e a Internet. Vou tentar exemplificar esse processo a partir de um exemplo real ocorrido no ano passado, quando sua professora de inglês solicitou que fosse feita uma pesquisa sobre os lugares pitorescos de New York. Para fazer essa pesquisa foram seguidos os passos abaixo (que eu acompanhei pessoalmente durante todo o processo):

1 – Compreender o que significa “lugar pitoresco” e saber identificar um deles quando o encontrar. Para isso meu filho usou um dicionário e a Internet e descobriu que se tratava dos “pontos turísticos” de New York. O dicionário lhe deu o significado da palavra e a busca na Internet lhe mostrou alguns exemplos desses lugares. Usar dicionários (impressos ou digitais) e mecanismos de busca na Internet para obter o significado das palavras e exemplos de sua ocorrência é parte natural do “método de aprendizagem da geração atual”;

2 – Criar um documento de edição de texto (ou apresentação de slides) em branco, onde serão copiados os textos, excertos, imagens e outros dados obtidos na Internet. O uso de editores de texto (como o Word ou o editor do OpenOffice) para armazenar, organizar e editar as informações obtidas, para que depois se possa formatar o trabalho final digitalmente, é um recurso imprescindível hoje em dia e substitui com inúmeras vantagens o procedimento de fotocopiar, ou copiar à mão, todo o material;

3 – Pesquisar em diversas fontes as informações desejadas. Meu filho pesquisou em vários sites e páginas da Internet, buscou imagens e até mesmo vídeos. Além disso ele também pesquisou em enciclopédias e revistas impressas. As informações digitais consideradas “úteis” foram recortadas, copiadas e coladas no documento de edição de texto. As informações encontradas em impressos serviram de apoio para busca de informações digitais correspondestes. O uso de informações digitalizadas, em detrimento daquelas impressas em papel, deve-se a maior facilidade de manipular informações digitais nos dias de hoje.

4 – Selecionar e organizar as informações encontradas. Muitas informações encontradas são redundantes, algumas fontes são mais completas, algumas imagens são mais atraentes, etc. Toda a informação encontrada foi pré-selecionada e organizada por critérios de classificação que demandam comparações e análises. O uso de um documento eletrônico de texto permite inserir, organizar, excluir e modificar textos, figuras e layouts com uma facilidade que somente essa mídia permite.

5 – Editar, formatar e criar uma versão publicável do documento de resumo da pesquisa. Como a professora do ano passado solicitou que o trabalho fosse apresentado em uma “cartolina”, a formatação do documento de resumo da pesquisa procurou criar páginas que pudessem ser impressas e então coladas na cartolina. Documentos eletrônicos não deveriam ser impressos, salvo raras exceções, e deveriam ser apresentados com projetores multimídia, lousas digitais ou mesmo na Internet para acesso a partir da rede.

É evidente que meu filho, então com oito anos de idade, não tem ainda autonomia e habilidades para executar sozinho todos esses passos, e principalmente as etapas que envolvem análise, reescrita no padrão formal da língua e formatação final do documento. É nesse ponto que eu, como pai, interfiro procurando ajudar no desenvolvimento dessas habilidades. No entanto essa não deveria ser uma função apenas minha, mas sim da escola! É à escola que cabe preparar os alunos para o uso dos recursos tecnológicos de que eles dispõem na sociedade e que podem auxiliá-lo na realização de tarefas como essa. Em nenhum outro lugar fora da escola se pede às pessoas que façam um trabalho de pesquisa e o apresente em uma cartolina!

Geração Digital
A geração digital lida com naturalidade com o hipertexto e as TICs.

Os alunos da geração digital, como o meu filho, não percorrem os mesmo caminhos de aprendizagem que seus professores percorreram. Não há sentido ou propósito pedagógico em pedir a eles que copiem à mão um texto que podem copiar teclando Ctrl+C e Ctrl+V. Eles não fazem essas cópias digitais por preguiça, e sim porque são inteligentes e é uma grande burrice desperdiçar minutos preciosos da vida copiando à mão aquilo que se pode copiar em pouco segundos apertando-se umas poucas teclas.

Por outro lado, apesar dos aparatos e facilidades tecnológicas atuais, as aprendizagens realmente relevantes continuam sendo as mesmas de antes da era digital, apenas acrescida agora de outras aprendizagens que permitem o uso proficiente das novas tecnologias. Solicitar aos alunos que façam trabalhos de pesquisas copiados à mão não supre as necessidades de aprendizagem que já existiam antes e impedem as novas aprendizagens sendo, portanto, um duplo erro.

O resultado final da pesquisa feita pelo meu filho no ano passado, e que estou tomando como exemplo aqui, foi a produção de uma folha de cartolina que deveria então ser fixada na parede da classe. Poderia ter sido bem melhor se o resultado final fosse “mostrado em um filme” ou em uma apresentação de slides multimídia, mas mesmo sem se chegar a esse nível de exigência de uso das TICs, as aprendizagens relevantes ocorreram de forma bastante significativa. Percebi que depois dessa pesquisa a capacidade de busca de informações na Internet e de lidar com diversas informações conflitantes, redundantes ou irrelevantes melhorou bastante.

Mudando paradigmas

No caso atual o desfecho foi bastante positivo. Logo após a reunião com a professora, que pareceu não compreender muito bem que sua atitude é anti-pedagógica e prejudicial aos alunos, reuni-me com a coordenação da escola e, depois de expor os argumentos que exponho nesse artigo, a coordenação decidiu reorientar o corpo docente com relação ao uso das TICs na escola. Porém, se não fosse pela minha intervenção e pela decisão da coordenação da escola de promover o uso pedagógico das TICs, a situação seria bem diferente.

Cartoon Google
Muitos professores sentem-se em “crise existencial” diante das TICs. É preciso se inserir na nova realidade para não se sentir um “excluído do mundo”.

Um número muito grande de professores desconhece os novos paradigmas de aprendizagem baseados no uso das novas tecnologias digitais e ignoram o fato de que a aprendizagem dos seus alunos não se dá apenas dentro do ambiente de sala de aula. A professora do meu filho nesse ano é uma moça ainda bem nova e só tem cinco anos de experiência no magistério, o que a colocaria dentro de um universo de professores que já vem fazendo uso das novas tecnologias em sua própria aprendizagem. Porém, fazer uso das novas tecnologias não é garantia, por si só, da compreensão correta do seu potencial pedagógico. Mesmo professores que já são eles mesmos da era digital se vêm ainda presos a práticas antiquadas e a paradigmas e mitos que vem sendo reproduzidos geração após geração de novos professores.

O papel da gestão escolar nesse momento de mudança de paradigmas é fundamental, pois é a ela e, em especial, à coordenação pedagógica, que cabe a responsabilidade pelo aperfeiçoamento do corpo docente, a disponibilização de recursos e, principalmente, a orientação pedagógica adequada para o uso proficiente não apenas das novas tecnologias, mas também das novas metodologias de ensino e aprendizagem.

Investir pesadamente nessa mudança de paradigmas é papel de todos nós. Ao discutir isso com a coordenação pedagógica da escola do meu filho eu desempenhei vários papéis, inclusive o meu papel de educador que não se extingue quando saio da minha própria sala de aula. Mas meu papel como pai e cidadão, que exige uma escola adequada às necessidades dos alunos atuais, talvez tenha sido o mais importante para a conclusão desse case.

Educadores, formadores de opinião, gestores de políticas públicas e todos os cidadãos precisam se empenhar em exigir das escolas práticas pedagógicas e metodologias mais afinadas com os tempos atuais. Não podemos permitir que a escola continue sendo uma instituição à parte da sociedade, como se fosse uma espécie de dinossauro não extinto vivendo em um mundo perdido e distante da realidade. As TICs não são apenas uma opção a mais na Educação, elas são parte de uma realidade onde todos nós, inclusive a escola, estamos inseridos. Não se pode ignorá-las e, sobretudo, não se pode dar continuidade a práticas pedagógicas que dificultem a apropriação do uso dessas TICs pelos alunos. Por isso é preciso investir pesadamente na capacitação dos professores que ainda não compreendem esses novos paradigmas. A própria escola precisa refletir e aprender se quiser produzir alunos reflexivos e capazes de aprender a aprenderem de forma autônoma.

Sugestões de leituras na Internet:

  1. As Novas Tecnologias da Informação e Comunicação e a Pesquisa Escolar: O artigo aborda a pesquisa baseada em fontes pessoais, bibliográficas e eletrônicas e as formas de procedimentos dos alunos para a realização do trabalho.
  2. A Pesquisa Escolar em Tempos de Internet: A problemática da pesquisa da e para a escola. As autoras buscam compreender, através do discurso de adolescentes entrevistados, a construção/produção da pesquisa escolar na Internet, buscando a sua funcionalidade no contexto do ensino e o seu papel na constituição do sujeito leitor-escritor. Com suporte na teoria enunciativa da linguagem de Bakhtin, elas procuram analisar a questão da autoria da pesquisa escolar, focalizando-a em sua dimensão textual/discursiva.
  3. A Internet na pesquisa escolar: um panorama do uso da web por alunos do ensino fundamental: Estudo de pesquisadores da UFMG que tem como objetivo verificar o uso da internet por alunos do ensino fundamental, com ênfase nos seus trabalhos escolares.
  4. Mudanças geradas pela Internet no cotidiano escolar: as reações dos professores: Análise de 20 entrevistas realizadas com professores do ensino Fundamental e Médio de escolas particulares do Rio de Janeiro. Respostas, reações, comentários e atitudes indicam que tais mudanças os têm atingido profundamente e feito enfrentar dolorosos conflitos internos.
  5. A Internet como ambiente de pesquisa na escola: Último capítulo do livro “novas tecnologias na educaçao: reflexoes sobre a pratica” de Luis Paulo Leopoldo Mercado, disponível para leitura no Google Livros.
  6. Oficina de Pesquisa na Internet: Uma oficina de formação de professores desenvolvida pela equipe do Educarede visando capacitar professores para o uso da Internet como fonte de pesquisa e, assim, possibilitar que esses professores capacitem seus próprios alunos para o uso proficiente da Internet como meio de pesquisa.
  7. Dez conselhos para evitar o “copiar e colar”: Apresentação de slides disponibilizada no blog Informática Educacional e Meio Ambiente da professora Miriam Salles (que fez a tradução da apresentação para o português).

(*) Para citar esse artigo (ABNT, NBR 6023):

ANTONIO, José Carlos. Pesquisa escolar na Internet: Ctrl+C & Ctrl+V versus Cópia Manuscrita, Professor Digital, SBO, 31 jan. 2010. Disponível em: <https://professordigital.wordpress.com/2010/01/31/pesquisa-escolar-na-internet-ctrlc-ctrlv-versus-copia-manuscrita/>. Acesso em: [coloque aqui a data em que você acessou esse artigo, sem o colchetes].

Uso pedagógico do telefone móvel (Celular)


Contextualizando

O primeiro telefone móvel (celular)
Martin Cooper, da Motorolla, e o primeiro telefone celular.

O telefone móvel, ou celular, foi lançado em 1973, em Nova Iorque. Na época ele era gigantesco, pesava o equivalente a dúzias de celulares modernos e tinha uma área de abrangência muito restrita, além de ser analógico (*1) e não digital (*2).

Somente uma década mais tarde, em 1983, chegaria ao mercado o primeiro modelo comercialmente viável, o DynaTAC 8000x, da Motorola, pesando apenas 794,16 gramas.

Você pode encontrar um pouco da história dos celulares nos links sugeridos no final deste artigo.

O meu primeiro celular, foi um “tijolinho” da Motorola que inaugurou a linha de microcelulares, o Microtac. Na época (década de 90) ele custava caríssimo e só funcionava em uns poucos lugares “iluminados”, pois a maior parte do país ainda era uma área de sombra (*3) para a telefonia móvel incipiente de então.

Meu primeiro telefone celular
Meu primeiro celular foi um Motorola Microtac. O mais leve da categoria em sua época, pesando apenas 290 gramas!

Confesso que na época eu mesmo não via nenhuma outra utilidade no telefone celular que não fosse a de poder falar de diferentes lugares com um mesmo telefone. O celular era então apenas um telefone e somente adultos dispostos a investirem uma quantia razoável, e que tivessem uma boa razão para tal, se dispunham a comprá-lo.

Hoje em dia o telefone celular é um dos aparatos tecnológicos mais comuns. Segundo pesquisa do Núcleo Gestor da Internet no Brasil, em 2008 52% da população do Brasil já possuía telefone celular. Nos grandes centros urbanos já é quase impossível encontrar alguém com mais de 14 anos que não tenha um telefone celular.

Celular moderno
Celular moderno, com tela giratória e com capacidade para HDTV.

Os telefones celulares atuais são pequenos, leves, tem baterias duradouras, funcionam em quase todos os lugares e há muito deixaram de exercer apenas a função de telefone. Hoje em dia os telefones celulares são verdadeiras centrais multimídias computadorizadas (*4) onde se pode telefonar (Sim! Os telefones celulares ainda servem para telefonar!), ouvir rádio, mp3, assistir TV, tirar fotos, fazer filmes, gravar voz, jogar videogame, mandar e receber e-mails ou arquivos e acessar a Internet, dentre outras muitas funções.

E é justamente por serem centrais multimídias computadorizadas que os telefones celulares deixaram de ser apenas telefones e passaram a ter múltiplas finalidades. E é claro que entre os muitos usos que podemos fazer deles, alguns também podem ser pedagógicos!

Desfazendo alguns mitos

Antes de propor usos pedagógicos para o telefone móvel celular atual é preciso desfazer alguns mitos sobre a presença do celular na escola e o principal deles é o que diz que o telefone celular é desnecessário na escola e, além disso, atrapalha o andamento das aulas.

Alguns professores se queixam que os telefones celulares distraem os alunos. É verdade. Mas antes dos telefones celulares eles também se distraiam. A única diferença é que se distraiam com outras coisas; como aliás, continuam fazendo nas escolas onde os telefones celulares foram proibidos. O que causa a distração nos alunos é o desinteresse pela aula e não a existência pura e simples de um telefone celular. Exemplo claro disso é que em muitas escolas e em muitas aulas os alunos não se distraem com seus celulares, apesar de estarem com eles em suas mochilas, nos bolsos ou mesmo sobre as carteiras.

Alguns afirmam que os alunos usam celulares para colar. Bom, é provável que sim. Alunos colam sempre que estão diante de provas e atividades que permitam ou estimulem a cola. Essas provas e atividades são geralmente pobres e requerem apenas uma resposta “decorada” ou que se assinalem alternativas, coloque-se verdadeiro ou falso ou se forneça um número como resposta. Nesses casos colar é a solução mais inteligente como resposta a uma avaliação pouco inteligente. Em avaliações onde o aluno precisa pensar, construir respostas próprias ou realizar “ações”, praticamente não há como colar, nem com celular, nem sem celular. Além disso, como todo professor sabe muito bem, a “tecnologia da cola” é muito anterior à do celular.

Aviozinhos de papel
Se proibirmos o uso de cadernos acabaremos com os aviozinhos de papel na classe?

Há quem diga que os alunos usam os telefones celulares para, propositalmente “zoarem” nas aulas, com o professor ou com os colegas. É verdade! E eles também zoariam nessas mesmas aulas sem os celulares: jogando aviõezinhos, bolinhas de papel, fazendo piadinhas e outras milhares de traquinagens possíveis. Não é o celular que incentiva o aluno à indisciplina e sim o desejo dele de confrontar o professor. A solução para esses casos não tem nenhuma relação com o telefone celular, assim como não tem nenhuma relação com os aviõzinhos de papel (ou também proibiremos os alunos de trazerem cadernos na escola porque eles tiram folhas e fazem aviõzinhos de papel?).

Assim como se argumenta que a Internet permite que os alunos tenham acesso a materiais impróprios e façam uso indevido dela, também há quem diga que os telefones celulares permitem uma série de “violações” às regras e normas éticas e morais. Na verdade também nunca foi preciso ter telefone celular para violar essas regras e a escola serve, entre outras coisas, para ajudar na formação ética e moral de seus alunos, e isso não se faz com imposição, omissão ou simples proibição. Ética e valores são conteúdos transdiciplinares que devem estar presentes sempre, inclusive ao lidarmos com as novas tecnologias.

Também se argumenta que é constrangedor para os alunos que não têm celular conviverem com outros que os têm. Provavelmente também seja verdade, mas também é igualmente verdadeiro para os tênis que eles usam, para a calça jeans, para o caderno de capa dura, para o estojo, para o relógio, etc., etc. Na escola temos que aprender, todos nós, a conviver com as diferenças e compreender a realidade que as produz. Não podemos simplesmente decretar que todos usem as mesmas roupas (apesar da exigência de uniformes em algumas escolas), que tenham os mesmos materiais escolares, que façam uso do mesmo vocabulário, dos mesmos brinquedos e principalmente, que tenham as mesmas idéias.

Enfim, todos os argumentos que costumo ouvir defendendo a proibição dos celulares nas escolas são argumentos pouco refletidos, onde os problemas reais que são apontados dizem respeito à forma de gestão de aula do professor ou a maneira como a própria escola idealiza o aluno e não ao aparelho de telefone celular propriamente dito. Antes do telefone celular esses mesmos argumentos eram usados para proibir o walkman, o baralho de cartas, os jogos de tabuleiro, as revistas, o rádio de pilhas, a calculadora, etc. etc. Na verdade às vezes eu tenho a impressão de que alguns professores gostariam que seus alunos ficassem nus, amarrados às carteiras e com uma mordaça na boca.

Além desses todos, também há um argumento bastante recorrente para justificar a proibição dos celulares na escola: eles não ajudam o professor em nada, então para que permiti-los? Vamos refletir um pouco mais sobre isso?

  • Você, professor, já usou um rádio, rádio-gravador ou um aparelho de reproduzir sons em sala de aula?
  • Já usou alguma vez uma calculadora, em alguma aula?
  • Já usou uma TV, um videocassete ou um DVD em alguma atividade?
  • Já manteve contato com os alunos por e-mail, pela Internet ou por outro dispositivo que permita comunicação à distância?
  • Já fez alguma atividade onde fosse necessário tirar fotos ou gravar um filme?
  • Já propôs alguma entrevista que fosse gravada e depois transcrita?
  • Já usou jogos eletrônicos (videogames) com seus alunos?
  • Costuma comunicar datas de provas e de entregas de trabalho para seus alunos e pede que eles anotem?
  • Já pediu alguma vez aos seus  alunos que copiassem suas anotações feitas na lousa?
  • Já lhes disse alguma vez: “Preste muita atenção na explicação que vou dar agora!” ou algo semelhante a isso?
  • Já consultou a hora para saber quanto falta para o término da aula ou já usou um cronômetro para lhe avisar quando faltarem cinco minutos para o final da sua aula?

Bom, se você já fez pelo menos uma das atividades ou ações descritas acima, então saiba que ela poderia ter sido feita de forma equivalente com o uso de telefones celulares modernos e, não raro, de forma até bem mais eficaz!

Usando o celular na escola

Vou contar uma breve historinha:

O MEC envia livros para as escolas, mas nem sempre há livros para todos. Em 2009 deparei-me com uma situação destas, em que uma classe ficou sem livros e foi necessário então compartilhar os livros entre duas classes. Porém isso impedia os alunos de levarem os livros para casa para poderem estudar… O que fazer?

Em outros tempos eu pediria aos alunos que copiassem as partes mais importantes do livro usadas em cada aula e diríamos que isso era a “matéria para ser estudada”. Isso demanda muito tempo de aula gasto inutilmente, pois não temos esse tempo disponível, temos? Além disso, a menos que o objetivo da aula seja treinar caligrafia ou chatear os alunos, fazer cópias de livros e mesmo da lousa é algo realmente “inútil”. Também existe a possibilidade de fotocopiarmos algumas páginas, mas isso tem um custo com o qual poucas escolas públicas podem arcar.

Mas não precisamos mais fazer nada disso. Agora basta pedir aos alunos que peguem seus celulares e FOTOGRAFEM as páginas importantes do livro! E foi justamente isso que os alunos fizeram.

Fotografando e gravando com o celular
O Celular como ferramenta de registro

O mesmo vale para a lousa e mesmo para as pesquisas bibliográficas na biblioteca. Quando algum aluno me pergunta hoje em dia se precisa copiar minhas anotações da lousa, eu logo lhe recomendo que faça algo mais inteligente: fotografe a lousa! E eles fazem!

Essa brevíssima historinha, que é apenas uma dentre muitas,  já me permite então listar algumas sugestões para o uso pedagógico dos telefones móveis celulares modernos em sala de aula e fora dela:

  1. Se você em algum momento faz cálculos em suas aulas e solicita que os alunos os façam, e a menos que por alguma boa razão eles devam fazer esses cálculos com algoritmos específicos e usando papel e lápis, então considere fortemente a possibilidade de usar os celulares como calculadoras. Além disso, se você é professor de matemática e quer ensinar seus alunos como resolver expressões aritméticas obedecendo as regras de precedência de operadores, considere que o uso de calculadoras, e portanto celulares, consiste em um método bastante eficaz de fazê-lo, pois as máquinas seguem a ordem que nós determinamos para as operações; o telefone celular é uma calculadora também;
  2. Se você marca datas de provas, entregas de trabalho ou outras datas que considera importante que os alunos se lembrem, peça-lhes que anotem essas datas. Não no caderno, mas sim na agenda do celular! Eles andam com o celular no bolso o tempo todo e só estão perto do caderno quando estão na escola, confere? O telefone celular é uma agenda que tem até mecanismo de alerta;
  3. Já é possível criar um serviço de envio de mensagens de aviso por e-mail ou via torpedos. Pelo celular é possível receber atualizações de sites, blogs e até mesmo de mensagens do Twitter, bem como fazer o caminho oposto. Se quiser dar um passo adiante você pode criar um serviço desses e disponibilizar para seus alunos; o telefone celular também é um serviço de leitura de notícias e de publicação de notícias;
  4. Os celulares atuais gravam sons, imagens (fotos) e ambos (filmes). Todos esses recursos servem para “registro”. Permita, e mesmo incentive, que seus alunos fotografem sua lousa ao invés de copiá-la no caderno. Isso lhes permite prestar atenção em você, enquanto você fala e escreve, ao invés de repartirem a atenção entre o que você diz e o que eles estão copiando nos cadernos. O mesmo vale para as suas explicações importantes que podem ser gravadas como sons ou como filmes. Imagine o quanto é mais interessante para o aluno “assisti-lo” ou mesmo “ouvi-lo” na hora de estudar do que apenas conferir anotações, nem sempre fiéis, feitas nos cadernos! Use, você mesmo, esses recursos para registrar atividades feitas com os alunos; o telefone celular é uma câmera fotográfica digital, uma filmadora digital e um rádio-gravador digital;
  5. Proponha o uso dos celulares como ferramentas para os alunos desenvolverem seus trabalhos. Como foi dito acima, com o celular eles dispõem de gravador de voz, imagem e vídeo, muito embora eles mesmos não tenham o hábito de registrar suas atividades. Isso é o que chamamos de “making-off” das atividades e, ao fim e ao cabo, é esse o único registro que nos interessa e não o resultado final da atividade. Por exemplo, se eles têm que confeccionar uma maquete, porque não fotografar todas as etapas e depois transformar isso em um filme (animação) que pode ser incluído como parte da própria atividade? O telefone celular é uma ferramenta de registro, edição e publicação.
Aparelho de celular moderno
Siemens SK65 – celular ou computador?

Há uma infinidade de possibilidades de uso pedagógico dos telefones celulares modernos em sala de aula e fora dela. Quais lhe interessam? Isso certamente depende da forma como você, professor, usa a tecnologia para si mesmo, em suas aulas e com os seus alunos. Quem não vê nenhum uso pedagógico para o rádio, a televisão, a máquina fotográfica, a filmadora, o gravador, a calculadora, a agenda, etc., então também não verá nenhuma utilidade para o celular, pois é isso que ele representa hoje em dia: não é mais um simples telefone, o celular é uma central de multimídia computadorizada.

Celulares na escola
Eles têm, eles trazem e eles usam… Porque não?

À propósito, sempre foi muito comum a falta de recursos tecnológicos nas escolas, principalmente nas escolas públicas. Com o telefone celular passamos a ter muitos desses recursos disponíveis não apenas pela escola, mas também pelos alunos! Isso deveria ser comemorado, mesmo que não concordemos que os alunos prefiram ganhar celulares dos seus pais do que enciclopédias, pois com os celulares eles também ganham diversas possibilidades de aprendizagem que antes não tinham porque a própria escola não dispunha desses recursos. Isso é fascinante, não é?

Alguns cuidados finais

Porém, antes de sair por aí reformulando todas as suas práticas e instituindo a obrigatoriedade do uso do telefone celular na escola, tenha em mente que ainda temos muitos alunos que não têm telefone celular ou que têm telefones celulares que não dispõem de todos os recursos mencionados aqui. Além disso, em alguns estados e municípios (e há uma lei tramitando com validade para o país todo) o celular é proibido na escola. Portanto, é preciso sempre:

  • propor atividades que envolvam o uso de celulares para grupos de alunos em que pelo menos um aluno do grupo disponha do celular com o recurso que será utilizado;
  • permitir que os alunos aprendam a usar o recurso antes de propô-lo como parte de uma atividade. Geralmente os alunos dominam os celulares melhor do que seus professores e aprendem rápido a usá-lo, por isso é uma boa idéia “deixar que eles mesmos ensinem e aprendam a usar o recurso entre eles mesmos” (e aproveite para aprender também!);
  • discutir as questões éticas e morais envolvidas no uso de imagens e registros, bem como o uso indevido dos celulares e de outros equipamentos de mídia;
  • estabelecer claramente no planejamento da sua atividade, e descrever em detalhes no seu planejamento de aula, os objetivos do uso do celular nas atividades propostas. Haverá sempre alguém para se indignar com o fato do celular estar sendo usado na sua aula, infelizmente;
  • e, por último, estabelecer claramente as regras de uso dos celulares na escola de maneira geral e, em particular, durante as aulas em que não estarão usando o celular “como parte da aula”, da mesma forma como estabelecemos as regras para o uso do baralho, dos jogos de tabuleiro, dos avioezinhos de papel e de todo o resto.

Veja que não é difícil negociar o que pode e o que não pode, quando se deve e quando não se deve usar o celular. Fazemos isso da mesma forma como estabelecemos outras regras de convivência na escola. Os conflitos mais comuns que surgem nas salas de aula devem-se justamente à falta de uma definição clara desses acordos e da crença em pressupostos perigosos, como o de que o aluno “deve saber naturalmente o que é certo e o que é errado”.

Também é importante discutir com os alunos os limites éticos e morais do uso do celular, e de outros instrumentos tecnológicos modernos, fora da escola. O celular é parte do cotidiano deles e ensiná-los a usá-lo com sabedoria é também parte da nossa tarefa como educadores. E esta é mais uma boa razão para usar os celulares na escola como ferramentas pedagógicas, pois com isso somos naturalmente levados ao contexto do seu uso responsável e podemos desempenhar nosso papel de educadores de forma natural.

Glossário:

(*1) Sinal Analógico: sinal contínuo que varia com o tempo. A informação é transmitida por meio dessas variações.

(*2) Sinal Digital: sinal transmitido da forma de “zero” e “um”, ou seja, a informação é transmitida na forma binária.

(*3) Área de sombra: região onde os telefones celulares não conseguem conexão com nenhuma torre de transmissão e, portanto, não funcionam.

(*4) Central multimídia computadorizada: este termo esta sendo usado aqui para descrever um aparato que disponibiliza diversas mídias (texto, rádio, TC, etc.) de maneira digital, isto é, controlada por um processador (computador).

Sugestão de outros textos disponíveis na Internet:

(*) Para citar esse artigo (ABNT, NBR 6023):

ANTONIO, José Carlos. Uso pedagógico do telefone móvel (Celular), Professor Digital, SBO, 13 jan. 2010. Disponível em: <https://professordigital.wordpress.com/2010/01/13/uso-pedagogico-do-telefone-movel-celular/>. Acesso em: [coloque aqui a data em que você acessou esse artigo, sem o colchetes].

DynaTAC 8000x

Segurança em computadores e na Internet – III


Como o tema “segurança” é inesgotável, resolvi voltar a ele uma vez mais. Já falei um pouco sobre a segurança do computador em si e sobre a segurança no uso do e-mail e da internet de forma geral, agora volto ao tema para falar um pouco sobre a segurança pessoal no uso da Internet.

Primeiramente cabe notar que muitas pessoas estão adentrando ao mundo virtual da Internet a cada dia. Dados do IBGE de 2005 indicavam 32 milhões de usuários da Internet no Brasil em 2005. Dados de julho de 2009 do Ibope Nielsen Online indicam agora que esse número já está na casa dos 65 milhões.

Computadores e Internet
Evolução do uso de computadores e da Internet

Evidentemente que o número de professores que passaram a usar os computadores e a Internet nesse período também aumentou muito e eu suspeito, com base em minhas observações pessoais, que esse aumento foi ainda maior do que o da média da população, proporcionalmente.

Tudo isso nos leva a uma questão importante: será que esses novos usuários, e os antigos também, sabem como é fazer parte desse “mundo virtual”?

Apesar do espanto e do deslumbramento inicial que as pessoas têm quando passam a ter acesso à Internet e se tornam seus usuários e colaboradores, e da aparente “fonte inesgotável” de novos conhecimentos e possibilidades, principalmente educacionais, é um fato que muitos não fazem a menor idéia de como começar a utilizá-la para si mesmos e para melhorar suas práticas pedagógicas. E apesar dos cursos de formação, oficinas e outras oportunidades, muitos continuam sem fazer um bom uso da Internet e dos computadores por muito tempo após ingressarem no mundo virtual.

As possibilidades de uso da Internet na educação aumentam exponencialmente e hoje em dia implicam no uso ostensivo de ferramentas Web 2.0. Assim, o professor iniciante no uso da Internet já começa dando um salto de “não-usuário” para a categoria de Professor 2.0, muitas vezes sem passar antes pela fase de Professor Digital, e isso acaba criando várias dificuldades e alguns problemas especiais de “segurança”. É sobre esses problemas de segurança no uso das ferramentas da Web 2.0 que pretendo tratar nesse texto.

Nossa segurança pessoal na Internet envolve pelo menos três fatores. A saber:

  • a nossa segurança patrimonial: informações de acesso a bancos, cartões de crédito e documentos pessoais
  • a nossa segurança pessoal: informações particulares, nossa imagem pública e profissional
  • a segurança daqueles sobre os quais somos responsáveis: nossos filhos, nossos alunos, nossa escola ou a empresa na qual trabalhamos

Nossa segurança patrimonial depende formente da maneira como resguardamos nossas senhas de acesso, números de cartões de crédito e informações sobre documentos pessoais que podem cair em mãos de pessoas mal intencionadas e resultar em prejuízos financeiros. Nos dois primeiros artigos dessa série eu comento um pouco sobre esse tema e dou algumas sugestões sobre como se proteger. Resumidamente:

  • não use computadores públicos para acessar bancos ou fazer compras online com cartões de crédito;
  • não forneça senhas, números de cartão de crédito ou documentos pessoais para sites que não sejam seguros (quando não aparece o “cadeado” na barra de mensagens no rodapé do navegador) e sobre os quais você não tenha certeza de que seja confiáveis;
  • tenha um bom anti-vírus instalado no seu computador e o mantenha atualizado;
  • não abra mensagens de e-mail suspeitas (ou de desconhecidos lhe fazendo propostas “interessantes”); não clique em links suspeitos e não envie seus dados de acesso bancário ou de cartões de crédito por e-mail.

Cabe agora falar um pouco mais sobre sua segurança pessoal e a das pessoas e organizações sobre as quais você tem responsabilidade (sua família, seus alunos e sua escola ou empresa).

Pequenos deslizes no uso da Internet pode compromenter tanto a sua segurança quanto a de terceiros. Então tenha em mente que:

  1. tudo o que se encontra na Internet é “público”, isto é, pode ser acessado, teoricamente, por qualquer pessoa e para qualquer finalidade;
  2. todas as leis de proteção de direitos autorais, direito do uso de imagens e direitos e garantias individuais são válidas também para a Internet;
  3. todas as suas ações, visitas a sites, arquivos enviados ou recebidos, mensagens, conversas ou qualquer outra manifestação sua na Internet podem ser rastreadas.

Na práica isso quer dizer que na Internet, apesar da “aparente virtualidade”, todas as suas ações são “reais”. Apesar dos “nicks” (apelidos), “avatares” (figuras que representam personagens) e da possibilidade de remover, apagar ou modificar textos, arquivos ou mensagens, de fato, sempre será possível saber quem você é, o que fez e o que está fazendo agora.

Isso não tem nenhuma importância se suas ações na Internet se derem sempre dentro da lei, da ética, da moral e dos bons princípios, mas qualquer deslize em qualquer momento ficará registrado e poderá ser “recuperado”, teoricamente, por qualquer pessoa a qualquer tempo.

Um diálogo mais áspero que você tenha em uma lista de discussão, mesmo as “listas fechadas”, uma imagem mais comprometedora que você tenha guardado em algum álbum (mesmo os pessoais e fechados), uma informação pessoal sua ou de outra pessoa que você forneça, tudo isso é, na verdade, público.

Em especial, todas as imagens dos seus alunos, seus próprios filhos ou imagens da escola ou empresa, e todas as informações que você forneça deles, a qualquer momento e para qualquer serviço da Internet, se tornarão públicos.

Se no futuro essa imagem ou informação vier a ser utilizada causando qualquer forma de prejuízo a você ou a terceiros, a responsabilidade será efetivamente sua por tê-la fornecido, salvo nos casos em que você tenha, explicitamente, a permissão e a concordância das pessoas ou instituições das quais forneceu essas informações.

Big Brother
O mundo todo está de olho em você!

Um bom conselho para quem está iniciando agora na Internet é que, ao sentar-se diante de um computador ,ao invés de você estar protegido e ocultado por uma máquina, na verdade você passa a estar exposto ao mundo todo e todas as suas ações poderão ser inspecionadas a qualquer momento.

De certa maneira a Internet é como um gigantesco “Big Brother”. Pense bem nisso antes de apertar qualquer tecla do seu computador.

Se você não tinha essa percepção antes, não se preocupe, poucas pessoas a têm, mas certifique-se de que daqui por diante você veja a Internet como uma “coisa real” e, sempre que possível, passe essas informações adiante, principalmente para seus alunos.

Sugestão de consulta na Internet:

  1. Quatro excelentes vídeos didáticos sobre o tema “Segurança na Internet” disponibilizados pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil: sugestão da leitora Lina Linólica feita ao artigo “II” dessa série e incorporada agora (01/02/2010).
  2. Cartilha de Segurança para a Internet: publicação do Comitê Gestor da Internet no Brasil que trata detalhadamente de todos os aspectos que envolvem a segurança de computadores e no uso da Internet.

(*) Para citar esse artigo (ABNT, NBR 6023):

ANTONIO, José Carlos. Segurança em computadores e na Internet – III, Professor Digital, SBO, 27 dez. 2009. Disponível em: <https://professordigital.wordpress.com/2009/12/27/seguranca-em-computadores-e-na-internet-–-iii/>. Acesso em: [coloque aqui a data em que você acessou esse artigo, sem o colchetes].